quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O abre-alas:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A nomeação do senador Garibaldi Alves para o Ministério da Previdência Social embute um recado político. Quer dizer alguma coisa, além da versão difundida nos bastidores de que seria a única opção do PMDB depois que Renan Calheiros vetou a indicação do senador eleito Eduardo Braga.

Vamos por partes, fazendo um exercício de dedução e de combinação de peças regido por pura lógica. Por que Garibaldi se seria ele o candidato natural do PMDB para a presidência do Senado com apoio de outras bancadas, inclusive de oposição?

Ah, o candidato natural do PMDB não seria José Sarney? Depende do ponto de vista. Na perspectiva do partido talvez sim, mas sob a ótica do governo - o mais poderoso ator da disputa pelo comando do Congresso - provavelmente não.

Sarney conseguiu que o presidente Luiz Inácio da Silva sacrificasse sem piedade o PT do Maranhão para eleger a filha, Roseana, governadora. Conseguiu que Edison Lobão voltasse ao Ministério de Minas e Energia, conseguiu indicar o deputado maranhense Pedro Novais para o Ministério do Turismo.

Das quatro pastas (de verdade) destinadas ao PMDB ficou com a metade. Muito mais poderoso que o vice-presidente, Michel Temer, que indicou um ministro (Agricultura) e meio (Secretaria de Assuntos Estratégicos).

Seria lógico que ainda ficasse com a presidência do Senado acumulando um poder digno da criação de uma república do Maranhão dentro do governo do PT? Pois é. O segundo da fila era Garibaldi.

Ora, se dizem que ele foi escolhido para o ministério porque não havia outro, então quem haverá para a presidência do Senado?

De onde se conclui que a Previdência foi dada a Garibaldi para remover uma peça importante do caminho na disputa pela presidência do Senado.

Só não é possível vislumbrar quem seria, então, o predileto. Se no PMDB não "há ninguém", do PT é que o próximo presidente não pode ser. O partido vai presidir a Câmara ficando com a vice no Senado.

A terceira bancada mais numerosa é a do PSDB, com dez senadores. Sim, mas e o governo com isso? Não há a menor chance de o novo governo aceitar, por exemplo, Aécio Neves na presidência da Casa.

De fato, não haveria mesmo, mas quem sabe que tipo de artifício pode ser engendrado por cabeças políticas cujos olhos miram muito adiante?

Quem sabe também se a oposição quer mesmo se opor? E quem sabe onde estará um político no futuro?

De nítido mesmo nessa história o que dá para enxergar é um Aécio conversador demais para quem está prestes a integrar a pouco influente bancada da oposição.

Noves fora, tudo isso quer dizer o quê?

Nada de muito objetivo, só um exercício de dedução e de composição de peças regido pela lógica para convidar o caro leitor, a amiga leitora a pensar.

Roupa nova. Só não se pode dizer que se arrependimento matasse o PMDB estaria mortinho da Silva porque para o partido é melhor ser governo que oposição.

A parte que coube ao partido no latifúndio da Esplanada desagradou, à revolta, à bancada na Câmara e à cúpula do partido, que promete esperar o governo na esquina.

Não na disputa pela presidência da Casa, mas mais à frente quando a presidente precisar de votos no plenário ou de solidariedade em comissões de inquérito.

Os dirigentes acham que foram humilhados e um deles fez a frase: "O PMDB estava louco para mudar a imagem. Mudou, antes era fisiológico e esperto agora é fisiológico e bobo."

Antes tarde. Gim Argello renuncia à relatoria e deixa a Comissão de Orçamento, aonde nunca deveria ter chegado.

Dá licença. Dessa conversa sobre "refundação" do PSDB o que deu para entender até agora é que se trata de uma espécie de programa de aceleração do afastamento de José Serra.

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