DEU NO PORTAL DO ´PPS
Folgo em saber que por trás da capa reformista do PPS ainda pulsam corações revolucionários, mas infelizmente, as grandes mudanças que o mundo precisa não foram e nem serão entregues pela Internet.
Após o vazio deixado pela queda do socialismo real a esquerda tem visitado várias temáticas na busca de um novo ideário: direitos humanos, ecologia, multiculturalismo e etc...
Se por um lado o ideário do ecologismo apocalípitico tem dominado amplas parcelas do que antes era hegemonizado pelo chamado pensamento socialista, por outro, vemos o surgimento de uma vertente de análise que vê no desenvolvimento da Rede o novo demiurgo das relações na sociedade contemporânea: a ciber-utopia. A ideologização desses fenômenos leva ao que Marx chamou de mascaramento do objeto e a transformação do mesmo em um instrumento de dominação.
Sem a devida análise crítica do fenômeno corremos o risco de embarcar na “ciber-utopia”, fazendo uma aplicação mecânica de velhas fórmulas: agora, ao invés de classe operária como agente da transformação, temos o novo ser conectado, a democracia operária virou interação virtual descentralizada, a socialização dos meios de produção mudou para Inteligência Coletiva (Pierre Levy) etc...Temperemos com algumas categorias marxistas e uma retórica apocalíptica de superação do capitalismo e voilà: temos uma Revolução.
Dominic Wolton, Evgeny Morozov e tantos outros estudiosos têm chamado a atenção para a mistificação do tema e suas colocações devem nos fazer refletir, pois a Internet é portadora de grandes expectativas desde seu surgimento: uma sociedade em rede horizontalizada, integração entre os povos, libertação do trabalho repetitivo e alienante, inclusão sócio-cultural das massas, democratização da informação e dos meios de comunicação, maior participação política e etc... Que até agora, passados 15 anos, não se verificaram.
As maiores apostas de mudança com o advento da Internet giraram em torno do binômio democracia/participação. Se supunha que com um espaço livre da rede as massas tomariam para os palácios de inverno da velha mídia e das bolorentas elites políticas.
Nada disso aconteceu. A velha mídia (TV-Rádio-Jornal-Cinema) convive muito bem com o novo membro da família, apesar de todo mundo poder produzir conteúdo, como na Teoria da Cauda Longa (Chris Anderson), os portais mais acessados são exatamente os da mídia tradicional.
Na seara política, todo mundo comentou a utilização da Internet na campanha do Obama, mas poucos deram atenção para o fato que para cada dólar investido na Rede a campanha dele pôs cinco em Rádio/TV. Interessante salientar, também, que com a mesma facilidade que os usuários de Internet aderiram a candidatura Obama, aderiram agora ao Tea Party, movimento da extrema direita norte-americana.
Existem diversos outros estudos mostrando que o uso que as pessoas fazem da internet não tem nada a ver com o que gostaríamos que fizessem. Elas trocam emails, navegam por sites de seus interesses, freqüentam as redes sócias e lêem notícias sobre futebol e variedades. Ou seja, as pessoas continuam sendo elas mesmas, talvez tenhamos de despertá-las dessa consciência em si para uma consciência para si. Já que a classe operária não compareceu ao último encontro marcado, tentemos novamente.
Sobre o Partido Digital, é preciso esclarecer que não há a menor possibilidade de dar certo sem um partido real, com uma IDENTIDADE política claramente definida, que permita aos usuários da Internet identificarem-se com nossa agremiação. A rede tem a característica de ser altamente descentralizada, como bem falou o Raulino (leia aqui), isso nos leva a ter de contar com a boa vontade das pessoas que compartilham os mesmos valores e crenças com a gente.
Para isso, uma agenda temática-identitária deve ser nosso cartão de apresentação. Não há outro jeito, a rede não organiza nada, ela agrega por interesse, cabe as nós gerar esse conteúdo para atrair e envolver os usuários.
A minha ideia com essa resposta é por a bola no centro do gramado. E para finalizar um vídeo provocativo postado no TED: http://migre.me/2IbFM
* Adão Cândido é secretário de Comunicação do PPS.
Folgo em saber que por trás da capa reformista do PPS ainda pulsam corações revolucionários, mas infelizmente, as grandes mudanças que o mundo precisa não foram e nem serão entregues pela Internet.
Após o vazio deixado pela queda do socialismo real a esquerda tem visitado várias temáticas na busca de um novo ideário: direitos humanos, ecologia, multiculturalismo e etc...
Se por um lado o ideário do ecologismo apocalípitico tem dominado amplas parcelas do que antes era hegemonizado pelo chamado pensamento socialista, por outro, vemos o surgimento de uma vertente de análise que vê no desenvolvimento da Rede o novo demiurgo das relações na sociedade contemporânea: a ciber-utopia. A ideologização desses fenômenos leva ao que Marx chamou de mascaramento do objeto e a transformação do mesmo em um instrumento de dominação.
Sem a devida análise crítica do fenômeno corremos o risco de embarcar na “ciber-utopia”, fazendo uma aplicação mecânica de velhas fórmulas: agora, ao invés de classe operária como agente da transformação, temos o novo ser conectado, a democracia operária virou interação virtual descentralizada, a socialização dos meios de produção mudou para Inteligência Coletiva (Pierre Levy) etc...Temperemos com algumas categorias marxistas e uma retórica apocalíptica de superação do capitalismo e voilà: temos uma Revolução.
Dominic Wolton, Evgeny Morozov e tantos outros estudiosos têm chamado a atenção para a mistificação do tema e suas colocações devem nos fazer refletir, pois a Internet é portadora de grandes expectativas desde seu surgimento: uma sociedade em rede horizontalizada, integração entre os povos, libertação do trabalho repetitivo e alienante, inclusão sócio-cultural das massas, democratização da informação e dos meios de comunicação, maior participação política e etc... Que até agora, passados 15 anos, não se verificaram.
As maiores apostas de mudança com o advento da Internet giraram em torno do binômio democracia/participação. Se supunha que com um espaço livre da rede as massas tomariam para os palácios de inverno da velha mídia e das bolorentas elites políticas.
Nada disso aconteceu. A velha mídia (TV-Rádio-Jornal-Cinema) convive muito bem com o novo membro da família, apesar de todo mundo poder produzir conteúdo, como na Teoria da Cauda Longa (Chris Anderson), os portais mais acessados são exatamente os da mídia tradicional.
Na seara política, todo mundo comentou a utilização da Internet na campanha do Obama, mas poucos deram atenção para o fato que para cada dólar investido na Rede a campanha dele pôs cinco em Rádio/TV. Interessante salientar, também, que com a mesma facilidade que os usuários de Internet aderiram a candidatura Obama, aderiram agora ao Tea Party, movimento da extrema direita norte-americana.
Existem diversos outros estudos mostrando que o uso que as pessoas fazem da internet não tem nada a ver com o que gostaríamos que fizessem. Elas trocam emails, navegam por sites de seus interesses, freqüentam as redes sócias e lêem notícias sobre futebol e variedades. Ou seja, as pessoas continuam sendo elas mesmas, talvez tenhamos de despertá-las dessa consciência em si para uma consciência para si. Já que a classe operária não compareceu ao último encontro marcado, tentemos novamente.
Sobre o Partido Digital, é preciso esclarecer que não há a menor possibilidade de dar certo sem um partido real, com uma IDENTIDADE política claramente definida, que permita aos usuários da Internet identificarem-se com nossa agremiação. A rede tem a característica de ser altamente descentralizada, como bem falou o Raulino (leia aqui), isso nos leva a ter de contar com a boa vontade das pessoas que compartilham os mesmos valores e crenças com a gente.
Para isso, uma agenda temática-identitária deve ser nosso cartão de apresentação. Não há outro jeito, a rede não organiza nada, ela agrega por interesse, cabe as nós gerar esse conteúdo para atrair e envolver os usuários.
A minha ideia com essa resposta é por a bola no centro do gramado. E para finalizar um vídeo provocativo postado no TED: http://migre.me/2IbFM
* Adão Cândido é secretário de Comunicação do PPS.
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