O TESTE DO MÍNIMO
Governo enquadra partido para evitar que aliados se rebelem no futuro
Gerson Camarotti, Chico de Gois e Isabel Braga
BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff e a coordenação política do governo decidiram reagir de forma exemplar contra dissidentes para evitar a contaminação da base em futuras votações importantes. Antes do resultado da votação, o PDT foi alertado ontem pelo Planalto que será tratado a "pão e água" por causa do comportamento do partido durante a discussão do mínimo.
O líder do governo, Cândido Vaccarezza, afirmou:
- O que o governo espera do PDT é que vote como governo e não com a oposição.
O líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz, reagiu:
- O PDT é aliado, não subordinado.
Único partido da base a bombardear a proposta de R$545, o PDT foi ameaçado de ser retaliado no loteamento dos cargos de segundo escalão e está arriscado a perder espaço no governo. Mas apesar da contrariedade da presidente Dilma, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, será mantido no cargo. Na votação do mínimo, a bancada do PDT votou a favor do texto-base, mas ficou liberada para votar contra o governo nos destaques.
A decisão do Planalto de enquadrar o PDT e outros eventuais dissidentes foi tomada ontem, numa reunião coordenada pelo chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e com as presenças dos ministros Luiz Sérgio (Relações Institucionais), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e dos líderes do PT no Senado, Humberto Costa (PE), na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP), e do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Para o Planalto, Lupi teve atuação "tímida"
A constatação palaciana é que se não houvesse um "enquadramento pedagógico" do PDT, o governo seria desmoralizado. O consenso era que a votação não corria risco, mesmo com a posição dúbia do PDT. Mas, sem reação ao exemplo dos pedetistas, o governo teme que a desobediência se repita.
Dilma foi avisada por Palocci sobre o cenário na Câmara e avalizou o endurecimento na relação do governo com o PDT. Também ficou decidido que não haverá flexibilização no valor do salário mínimo de R$545, quando a matéria for para o Senado.
Só depois do recado do Planalto Lupi saiu a campo e liberou a bancada com promessa de metade dos votos para os R$545. O Planalto considerou a atuação de Lupi "tímida, constrangida", além de ter vindo muito tarde, nas palavras de um ministro.
Outros ministros, como Mário Negromonte (Cidades), do PP, Alfredo Nascimento (Transportes), do PR, e Fernando Bezerra (Integração Nacional), do PSB, garantiram maioria folgada em suas respectivas bancadas.
A reunião de ontem do PDT foi quase um contramovimento da bancada a Lupi. Isso porque muitos lembraram os compromissos históricos do partido, e alguns disseram que não apoiavam o governo por cargos.
- Há uma crise de liderança no PDT - avaliou um auxiliar da presidente.
No final do dia de ontem, depois de participar de reunião em que a bancada do PDT foi liberada, o presidente interino do partido, Manoel Dias, calculava que os R$560 teriam pouco mais de oito votos:
- O PDT está no governo. Se o governo fecha questão, a maioria dos aliados aceita, ou aceitamos ou pedimos o chapéu.
Dias justificou a atitude frouxa de Lupi em pedir que a bancada votasse os R$545:
- Ele não pediu porque teríamos reunião permanente. As coisas evoluíram de última hora. Brigamos até onde era possível, mas não sendo vitoriosos, a maioria da bancada caminhará com os R$545.
Dilma ficou contrariada com Lupi. Para o Planalto, o PDT não deveria ter permitido que o deputado Paulinho da Força (PDT-SP) tivesse contaminado o restante da bancada.
FONTE: O GLOBO
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