Trabalhadores e representantes das centrais sindicais passaram o dia na Câmara torcendo para que pelo menos os R$ 560 fossem aprovados pelos parlamentares. A pressão foi maior durante a manhã
Josie Jeronimo
A contraofensiva do Planalto para enquadrar a base e pressionar os integrantes da base governista a votar favoravelmente ao projeto que estabelece em R$ 545 o salário mínimo de 2011 refletiu no comportamento de integrantes de movimentos sociais que tradicionalmente lotam as galerias do plenário da Câmara.
Na manhã de ontem, representantes das entidades sindicais ainda tinham a esperança de que a proposta de R$ 560 tivesse vitória. Organizaram um churrasco, subiram em carro de som e ocuparam o gramado em frente ao espelho d’água do Congresso. No início da tarde, a chuva e as informações de que o Planalto já havia retomado o controle de sua base dispersaram grande parte dos manifestantes.
Os mais insistentes ocuparam cerca de um terço das galerias do plenário da Câmara. Trabalhadores ligados à Força Sindical, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap) resistiram aos longos discursos dos cerca de 60 parlamentares inscritos para usar a tribuna.
As vaias que tomavam os discursos a cada vez que um deputado usava a vez para defender a proposta do governo desmentiam o pequeno número de manifestantes que passaram a tarde e a noite na Câmara. Quando o relator do projeto do governo, deputado Vicentinho (PT-SP), leu e defendeu a proposta de R$ 545, dezenas de representantes de entidades trabalhistas reforçaram a vaia.
Contrariando a lógica histórica, os parlamentares do DEM, como Ronaldo Caiado (GO) e Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), por sua vez, foram aplaudidos pelos sindicalistas. Deputados da base chegaram a pedir que as galerias fossem esvaziadas. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) ressaltou a ausência de representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na fileira dos manifestantes.
Gosto amargo
A lembrança da central mais vinculada ao PT, no entanto, foi marcada pelas intervenções de Vicentinho. Presenciar o ex-presidente da CUT representando o Planalto em uma proposição que, segundo as entidades sindicais, prejudica os assalariados teve um gosto amargo para os ex-companheiros, desabafou Paulo Sabóia, presidente da CGTB. “É triste ver um partido que era de oposição se curvar a essa política neoliberal. Fazer arrocho em cima de salário mínimo é revoltante. Isso é que é tergiversar”, disse, referindo-se à expressão usada com frequência por Dilma Rousseff. “Ele (Vicentinho) não podia se prestar a esse papel. O país tem 90 milhões de ocupados e o salário mínimo vai afetar 47 milhões. O líder do governo chegou às raias de fazer ameaça subliminar para aprovar o projeto”, reclamou o presidente da CGTB.
O trabalhador rural Noé de Oliveira Santos, morador de São Sebastião, engrossou o coro dos manifestantes das centrais. Noé, que sustenta a família com o salário mínimo que recebe, defende a proposta de R$ 600. “Se a gente estabelecesse R$ 600, já ajudava muito os trabalhadores. Acho que, para o cidadão ter uma vida digna, ele deveria ganhar pelo menos R$ 1,2 mil.”
Aposentados que ganham um mínimo e mais de um salário também acompanharam de perto as discussões. Os pensionistas que têm o benefício vinculado ao salário-base dos trabalhadores da ativa fizeram barulho pela aprovação do mínimo de R$ 560. Atentos à discussão que se desdobrará após o projeto do governo deixar o Congresso, os aposentados que ganham mais de um mínimo aproveitaram a mobilização para pressionar por projeto de recuperação de perdas das aposentadorias e regra para vincular o índice de reajuste do mínimo ao do benefício. “Eu me aposentei em 1993 ganhando cinco salários mínimos, agora ganho dois. O PT só fala nossa língua quando está na rua. Quando chega ao governo, muda até o linguajar”, reclama o aposentado Amadeu Lima.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
Josie Jeronimo
A contraofensiva do Planalto para enquadrar a base e pressionar os integrantes da base governista a votar favoravelmente ao projeto que estabelece em R$ 545 o salário mínimo de 2011 refletiu no comportamento de integrantes de movimentos sociais que tradicionalmente lotam as galerias do plenário da Câmara.
Na manhã de ontem, representantes das entidades sindicais ainda tinham a esperança de que a proposta de R$ 560 tivesse vitória. Organizaram um churrasco, subiram em carro de som e ocuparam o gramado em frente ao espelho d’água do Congresso. No início da tarde, a chuva e as informações de que o Planalto já havia retomado o controle de sua base dispersaram grande parte dos manifestantes.
Os mais insistentes ocuparam cerca de um terço das galerias do plenário da Câmara. Trabalhadores ligados à Força Sindical, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap) resistiram aos longos discursos dos cerca de 60 parlamentares inscritos para usar a tribuna.
As vaias que tomavam os discursos a cada vez que um deputado usava a vez para defender a proposta do governo desmentiam o pequeno número de manifestantes que passaram a tarde e a noite na Câmara. Quando o relator do projeto do governo, deputado Vicentinho (PT-SP), leu e defendeu a proposta de R$ 545, dezenas de representantes de entidades trabalhistas reforçaram a vaia.
Contrariando a lógica histórica, os parlamentares do DEM, como Ronaldo Caiado (GO) e Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), por sua vez, foram aplaudidos pelos sindicalistas. Deputados da base chegaram a pedir que as galerias fossem esvaziadas. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) ressaltou a ausência de representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na fileira dos manifestantes.
Gosto amargo
A lembrança da central mais vinculada ao PT, no entanto, foi marcada pelas intervenções de Vicentinho. Presenciar o ex-presidente da CUT representando o Planalto em uma proposição que, segundo as entidades sindicais, prejudica os assalariados teve um gosto amargo para os ex-companheiros, desabafou Paulo Sabóia, presidente da CGTB. “É triste ver um partido que era de oposição se curvar a essa política neoliberal. Fazer arrocho em cima de salário mínimo é revoltante. Isso é que é tergiversar”, disse, referindo-se à expressão usada com frequência por Dilma Rousseff. “Ele (Vicentinho) não podia se prestar a esse papel. O país tem 90 milhões de ocupados e o salário mínimo vai afetar 47 milhões. O líder do governo chegou às raias de fazer ameaça subliminar para aprovar o projeto”, reclamou o presidente da CGTB.
O trabalhador rural Noé de Oliveira Santos, morador de São Sebastião, engrossou o coro dos manifestantes das centrais. Noé, que sustenta a família com o salário mínimo que recebe, defende a proposta de R$ 600. “Se a gente estabelecesse R$ 600, já ajudava muito os trabalhadores. Acho que, para o cidadão ter uma vida digna, ele deveria ganhar pelo menos R$ 1,2 mil.”
Aposentados que ganham um mínimo e mais de um salário também acompanharam de perto as discussões. Os pensionistas que têm o benefício vinculado ao salário-base dos trabalhadores da ativa fizeram barulho pela aprovação do mínimo de R$ 560. Atentos à discussão que se desdobrará após o projeto do governo deixar o Congresso, os aposentados que ganham mais de um mínimo aproveitaram a mobilização para pressionar por projeto de recuperação de perdas das aposentadorias e regra para vincular o índice de reajuste do mínimo ao do benefício. “Eu me aposentei em 1993 ganhando cinco salários mínimos, agora ganho dois. O PT só fala nossa língua quando está na rua. Quando chega ao governo, muda até o linguajar”, reclama o aposentado Amadeu Lima.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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