Firmeza na limitação a R$ 545 do reajuste do salário mínimo, rejeitando as agressivas demandas contrárias das centrais sindicais, dobrando as resistências manifestadas no PT, negociando o apoio da maioria da bancada do PMDB, bem como enquadrando as dos demais partidos da base aliada, inclusive o recalcitrante PDT. E a antecipação na semana passada de um corte de gastos do governo – acima do que se previa fosse capaz de adotar, embora abaixo do que vários analistas consideram necessário dado o grau de descontrole das contas públicas federais nos últimos dois anos. Com essas decisões (a primeira das quais dependente de respaldo do Congresso, a partir da provável aprovação hoje na Câmara), a presidente Dilma Rousseff, sob a ameaça de persistente pressão inflacionária e do risco de ampla reindexação da economia, deixou para trás a negação da carência de um ajuste fiscal, feita nos palanques de sua campanha, convencida agora de que se tais medidas não forem aplicadas de pronto poderá comprometer todo o seu mandato.
As duas decisões ou iniciativas foram bem recebidas pelos grandes veículos da mídia em editoriais que as avaliaram como voltadas na direção certa, embora ainda insuficientes. Mas o tom do debate que se tem seguido está dominado pelo ceticismo doa agentes econômicos e dos analistas, especialmente a respeito da qualidade do corte de gastos (a ser ainda detalhado) e de sua efetiva implementação, devido à falta de credibilidade do conjunto do governo e em particular da equipe econômica para ações desse caráter. Falta essa cuja ultrapassagem constitui um outro desafio para a presidente Dilma – adicional e condicionante da obtenção de resultados concretos no controle inflacionário.
Seguem-se títulos e trechos de duas grandes reportagens de ontem, bem expressivas de tal ceticismo. Do Valor: “Analistas projetam mais inflação e ciclo mais longo de juros”. “O mercado não acreditou na efetividade do corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos, e as expectativas inflacionárias que já estavam bem acima do centro da meta, de 4,5%, pioraram muito. Os economistas, agora, já esperam um ciclo mais longo de alta de juros e um menor crescimento do PIB em 2011”. “Com relação à taxa de câmbio, também houve redução para baixo das projeções. O mercado acredita que a cotação do dólar encerará o ano na casa dos R$1,7”. Do Estado de S. Paulo: “Corte de gasto não convence o mercado , que volta a elevar projeção de inflação”. “Analistas ouvidos pela pesquisa Focus (feita pelo Banco Central)alteram projeção do IPEA de 5,66% para 5,75% e já há quem veja risco de descumprimento da meta em 2011”. E o editorial do Valor, de anteontem, com o título “Ajuste indica que tributos podem aumentar este ano”, vincula o pacote do corte de gastos a possível aumento da carga fiscal. Por meio da recriação da CPMF, que teve apoio unânime da bancada do PT em reunião promovido na semana passada. O texto conclui afirmando que “novas investidas do Estado sobre a economia em busca de mais receitas serão muito mal recebidas”.
A erosão do DEM e a disputa no PSDB - Enquanto no campo dos partidos situacionistas os problemas básicos no relacionamento entre eles, que se manifestam neste início de legislatura e do governo Dilma, são os conflitos em torno de caros da máquina administrativa federal e do controle do Congresso, apenas começando a configurar-se contradições sobre projetos eleitorais futuros e temas político-institucionais, enquanto isso no polo oposicionista desenvolvem-se dois processos negativos. O de erosão da segunda maior legenda, o DEM, estimulado pelo polo adversário e com ele articulado. E o de paralisia ou emperramento de definições e iniciativas do partido mais importante, o PSDB. Quanto ao DEM, já afetado por forte queda das bancadas federais, está em vias de sofrer a acentuação dessa queda e expressiva redução de seu peso político geral com o desligamento do prefeito da capital de São Paulo, Gilberto Kassab, de um dos governadores que conseguiu eleger, o de Santa Catarina, Raymundo Colombo, e de grande número de prefeitos nos dois estados, além de vários deputados estaduais e federais.
Abertura de artigo, na Folha de S. Paulo de ontem, do colunista Vinícius Torres Freire, intitulado “A oposição se desmancha”: “A agonia dos partidos de oposição é evidente desde 2010. Há tempos doentes, de dengue programática e anorexia social, partidos como PSDB e DEM parecem agora ter-se entregue à autoamputação. Gilberto Kassab pode causar a hemorragia de um terço dos quadros de seu DEM, a caminho que está de algum outro partido que lhe dê a legenda para o governo paulista em 2014 e para boas relações com o petismo”. “... José Serra talvez ameace cortar braços e pernas do PSDB, dada a disputa que trava com Alckmin e com Aécio Neves, mas o fato mesmo de que sugira a cisão ilustra o baixo nível da discórdia tucana”.
É jornalista
As duas decisões ou iniciativas foram bem recebidas pelos grandes veículos da mídia em editoriais que as avaliaram como voltadas na direção certa, embora ainda insuficientes. Mas o tom do debate que se tem seguido está dominado pelo ceticismo doa agentes econômicos e dos analistas, especialmente a respeito da qualidade do corte de gastos (a ser ainda detalhado) e de sua efetiva implementação, devido à falta de credibilidade do conjunto do governo e em particular da equipe econômica para ações desse caráter. Falta essa cuja ultrapassagem constitui um outro desafio para a presidente Dilma – adicional e condicionante da obtenção de resultados concretos no controle inflacionário.
Seguem-se títulos e trechos de duas grandes reportagens de ontem, bem expressivas de tal ceticismo. Do Valor: “Analistas projetam mais inflação e ciclo mais longo de juros”. “O mercado não acreditou na efetividade do corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos, e as expectativas inflacionárias que já estavam bem acima do centro da meta, de 4,5%, pioraram muito. Os economistas, agora, já esperam um ciclo mais longo de alta de juros e um menor crescimento do PIB em 2011”. “Com relação à taxa de câmbio, também houve redução para baixo das projeções. O mercado acredita que a cotação do dólar encerará o ano na casa dos R$1,7”. Do Estado de S. Paulo: “Corte de gasto não convence o mercado , que volta a elevar projeção de inflação”. “Analistas ouvidos pela pesquisa Focus (feita pelo Banco Central)alteram projeção do IPEA de 5,66% para 5,75% e já há quem veja risco de descumprimento da meta em 2011”. E o editorial do Valor, de anteontem, com o título “Ajuste indica que tributos podem aumentar este ano”, vincula o pacote do corte de gastos a possível aumento da carga fiscal. Por meio da recriação da CPMF, que teve apoio unânime da bancada do PT em reunião promovido na semana passada. O texto conclui afirmando que “novas investidas do Estado sobre a economia em busca de mais receitas serão muito mal recebidas”.
A erosão do DEM e a disputa no PSDB - Enquanto no campo dos partidos situacionistas os problemas básicos no relacionamento entre eles, que se manifestam neste início de legislatura e do governo Dilma, são os conflitos em torno de caros da máquina administrativa federal e do controle do Congresso, apenas começando a configurar-se contradições sobre projetos eleitorais futuros e temas político-institucionais, enquanto isso no polo oposicionista desenvolvem-se dois processos negativos. O de erosão da segunda maior legenda, o DEM, estimulado pelo polo adversário e com ele articulado. E o de paralisia ou emperramento de definições e iniciativas do partido mais importante, o PSDB. Quanto ao DEM, já afetado por forte queda das bancadas federais, está em vias de sofrer a acentuação dessa queda e expressiva redução de seu peso político geral com o desligamento do prefeito da capital de São Paulo, Gilberto Kassab, de um dos governadores que conseguiu eleger, o de Santa Catarina, Raymundo Colombo, e de grande número de prefeitos nos dois estados, além de vários deputados estaduais e federais.
Abertura de artigo, na Folha de S. Paulo de ontem, do colunista Vinícius Torres Freire, intitulado “A oposição se desmancha”: “A agonia dos partidos de oposição é evidente desde 2010. Há tempos doentes, de dengue programática e anorexia social, partidos como PSDB e DEM parecem agora ter-se entregue à autoamputação. Gilberto Kassab pode causar a hemorragia de um terço dos quadros de seu DEM, a caminho que está de algum outro partido que lhe dê a legenda para o governo paulista em 2014 e para boas relações com o petismo”. “... José Serra talvez ameace cortar braços e pernas do PSDB, dada a disputa que trava com Alckmin e com Aécio Neves, mas o fato mesmo de que sugira a cisão ilustra o baixo nível da discórdia tucana”.
É jornalista
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