Debates sobre reforma política no Brasil são recorrentes e tediosos. O tema costuma surgir, de maneira sazonal, no início dos mandatos presidenciais, e só interessa a políticos e cientistas sociais. Em geral não acontece nada.
Apresentada quase sempre como solução meio mágica para vícios do sistema político ou como antídoto à roubalheira sistêmica, a reforma no mais das vezes não passa de embromação. É isso o que parece estar em curso mais uma vez.
Não que inexistam coisas passíveis de mudança. Há, sim, uma pauta de melhoramentos possíveis, e já seria um bom começo se não fosse vista como panaceia: fortalecer os partidos, aproximar o eleitor do eleito (no caso dos legislativos), baratear as eleições e desprivatizar as campanhas, por exemplo.
O Congresso instalou duas comissões dedicadas à reforma política -uma na Câmara, outra no Senado. Operam de modo independente, a partir de agendas e interesses diversos. Em tese, teriam de se entender um dia. Na prática, protagonizam duas farsas. Acumulam-se as evidências de que nada substantivo ou relevante será aprovado.
Mais do que isso: enquanto gastamos papel, tinta, saliva, tempo (e dinheiro público) discutindo uma ficção, há uma "reforma" (ou antirreforma) comendo solta na vida real. O novo PSD é a face mais visível dela e da desconexão entre discurso e prática política no país.
Sintoma do desmanche da oposição, o partido de Gilberto Kassab coroa o clichê (verdadeiro) da geleia geral brasileira. Adesista, anfíbio, sem nenhuma ideia na cabeça e muita coceira nas mãos, o PSD escarnece da ilusão de que os partidos têm identidade programática e o jogo político se organiza segundo afinidades e contrastes ideológicos.
Dilma, ao assumir, prometeu reformar a política. Com o tíquete de acesso ao transatlântico governista no bolso e figuras carimbadas da direita na bagagem, Kassab acena à reforma com um tchauzinho e mostra a todos a vida como ela é.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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