terça-feira, 26 de abril de 2011

A obsessão dos 20 anos:: Eliane Cantanhêde

Ao desafiar e vencer os principais líderes e partidos nas primeiras eleições diretas pós-ditadura, em 1989, Fernando Collor sonhou quixotescamente, montado no efêmero PRN e empurrado por PC Farias, ficar 20 anos no poder.

Collor caiu do cavalo, o PRN virou pó, e PC Farias acabou fuzilado em circunstâncias de folhetim.

Ao capitalizar o Plano Real, se eleger em 1994 e se reeleger em 1998, Fernando Henrique considerou friamente as chances de manter a ampla aliança em torno do PSDB e a articulação de Sérgio Motta para 20 anos tucanos no poder.

FHC não se esforçou nem seria capaz de fazer o sucessor. Sérgio Motta explodiu o coração em sua ânsia de abarcar o mundo, e o PSDB navega como o Titanic.

Agora, ainda inebriado pela popularidade recorde e sentindo-se seguro com Dilma na cadeira de presidente, Luiz Inácio Lula da Silva repete -não por acaso na TV do Trabalhador, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC- a velha ideia de José Dirceu de garantir 20 anos de poder ao PT. Segundo Lula, "tempo necessário para mudar definitivamente a cara do Brasil".

Cada qual teve o seu Sancho Pança para operar a vaidade, a ambição desmedida e o falso senso de realidade. A diferença é que Lula transpôs da vida para a política seu raro instinto de sobrevivência. Quando sua reeleição e a imagem do PT tremelicaram em 2006, jogou os excessos ao mar sem sequer estender uma boia para Dirceu.

Destacou Dilma, renovou crenças, discursos, amizades e alianças e sobretudo não poupou esforços, marketing, recursos e instrumentos públicos até o ponto de pregar os 20 anos de poder justo agora, com a oposição se desmilinguindo.

Lula poderia falar em 25, 30 ou, quem sabe, nos 42 de Gaddafi na Líbia. Preferiu os cabalísticos 20, mas nem precisava tanto. Em muito menos, não só a cara do Brasil mudou, mas também a do PT e a da própria família Silva.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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