O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu de fato o comando das articulações políticas do PT com vistas às eleições de 2012. Lula pretende viajar por todo o país, na campanha municipal, mas o principal objetivo do PT é a capital de São Paulo. É hora, segundo Lula, de o partido recuperar a prefeitura que os tucanos tomaram em 2004 e mantiveram em 2008, mesmo à custa de sua unidade. O avanço petista na capital é considerado decisivo para acabar com a hegemonia do PSDB no Estado, que comemora 20 anos no fim de 2014.
Depois de escolher e eleger presidente uma candidata sem tradição anterior na política, Lula acha que pode repetir a dose em São Paulo. Atualmente, ele quer como candidato a prefeito o ministro da Educação, Fernando Haddad. Mas está acessível às demandas dos aliados e mesmo de líderes partidários situados até bem pouco tempo na oposição. Este é o caso de Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo e mestre de obras da organização do PSD. A empreitada entrou em banho-maria, mas é uma hipótese que não deve ser inteiramente descartada dos cenários para a eleição municipal de 2012.
Numa entrevista ao jornal "ABCD Maior", de São Bernardo do Campo, município governado por seu amigo Luiz Marinho, o ex-presidente deu a receita para a vitória em São Paulo. "Só precisamos montar uma chapa perfeita. O PT tem de encontrar um vice que dialogue com representantes do setor médio da sociedade, do pequeno empresariado, do profissional liberal e pessoas que têm um pouco de cisma do PT." O ex-presidente usa a palavra no sentido de cismar, desconfiança ou suspeita - sentimentos de que foi vítima em São Paulo, sobretudo, nas suas primeiras eleições.
No tabuleiro de Lula cabe até Kassab para derrotar o PSDB
À exceção de 2002, quando ganhou de José Serra desde o primeiro turno, São Paulo sempre foi uma pedra no sapato do ex-presidente. A vitória na capital chega a ter alguma coisa de pessoal para Lula. Mas na avaliação de dirigentes do PT paulista, é mera implicância, pois pouco ou quase nada resta da imagem do líder radical que inspirava o medo da classe média paulistana em eleições como a de 1989.
Em 1998, quando enfrentou Fernando Henrique Cardoso no cargo de presidente, Lula teve - no primeiro turno - 1,3 milhão de votos na capital; quatro anos depois, na onda vermelha que o elegeu, ele praticamente dobrou seu eleitorado e contabilizou 2,4 milhões de votos paulistanos.
Em 2006, Lula ainda conseguiu cravar 2,2 milhões de votos na capital, numa eleição disputada sob as ondas de ressonância do mensalão e do escândalo dos aloprados. Isso contra um ex-governador de Estado forte, como demonstrou o massacre de 3 milhões de votos que o tucano Geraldo Alckmin impôs de frente sobre Lula na disputa presidencial daquele ano.
Já o primeiro turno da eleição do ano passado foi um pouco mais suado para os tucanos. José Serra ganhou de Dilma no Estado por menos de 1 milhão de votos de diferença e a candidata do PT teve 2,5 milhões de votos na cidade de São Paulo - pouco mais de 100 mil votos que Lula teve em seu melhor desempenho na cidade, em 2002.
A prova dos nove, para Lula, será a eleição de 2012, na qual está engajado em tempo integral. Nem sempre no mesmo leito em que navegam os demais líderes petistas da capital. Na mesma entrevista ao "ABCD Maior", Lula afirma que costuma dizer que o PT vencerá em São Paulo quando encontrar o seu José Alencar, numa referência ao que seu vice-presidente representou nas vitórias em 2002 e 2006 ao juntar trabalho e capital na mesma chapa.
Convenientemente, Lula "esquece" que a hoje senadora Marta Suplicy se elegeu prefeita em 2000 na cabeça de uma chapa que tinha como vice o deputado Rui Falcão, da ala esquerda do PT. É verdade que Marta se beneficiou do voto antimalufista, no segundo turno, quando recebeu o apoio inclusive do PSDB. Apesar de uma gestão bem avaliada, Marta perdeu a reeleição para Serra em 2004, mas está viva no que se refere à eleição de 2012.
Embora negue publicamente a intenção de concorrer, Marta trabalha ativamente no bastidor. Quando - e se - definir que será candidata, ela imediatamente deve receber o apoio de outros nomes do PT. Os pré-candidatos declarados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini apenas cuidam de manter aquecida a cadeira da senadora. Os cálculos do PT paulista são feitos entre Marta e Aloizio Mercadante, ex-senador e atual ministro da Ciência e Tecnologia.
Nos planos do PT paulista estava aguardar por uma definição dos dois, antes de procurar um "nome novo" para trabalhar. Lula, pelo visto, quer pegar o atalho. Haddad é o nome, mas não é consenso no PT de São Paulo. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) trata como "inimigo" quem o considera para a prefeitura. Ele quer "arrumar" a saúde e então pensar em novos saltos na sua já meteórica carreira.
A ofensiva de Lula, a médio prazo, é tomar o arraial tucano de São Paulo, sem dúvida o reduto eleitoral mais poderoso do PSDB, seguido de Minas Gerais. Petistas mais entusiasmados acreditam que o próprio Lula poderá ser o candidato em 2014, se a reeleição de Dilma estiver bem encaminhada nacionalmente.
"Não tem como esconder, embora ela não possa e nem deva falar, mas Dilma será a candidata do PT em 2014", disse Lula na entrevista ao "ABCD Maior".
Só não disse o que não pode - e nem deve - falar agora: que será candidato a presidente em 2014, se em algum momento a reeleição de Dilma Rousseff parecer ameaçada.
O projeto para tomar São Paulo do PSDB passa pela eleição para a prefeitura da capital, e Lula, embora tenha suas preferências pessoais, está empenhado em costurar um amplo leque de alianças políticas. Espectro nem sempre do agrado do PT. O que o ex-presidente já dá como certo é a aliança preferencial com o PMDB. Ele assegura que os dois partidos estarão juntos em todos os municípios.
Há outras jogadas menos heterodoxas possíveis no tabuleiro de Lula. Sem nenhuma "cisma" daqueles até bem pouco tempo postados no campo adversário, como gosta de dizer o ex-presidente quando defende no PT a necessidade de reunir os "diferentes" para vencer os "antagônicos" (leia-se PSDB e o que restar do DEM).
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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