Entrevista : Aécio Neves
Senador defende que PSDB amplie leque de alianças e que não antecipe candidato; ele aponta contradições de adversários
Usando toda a mineirice que deixou de lado durante o embate travado na semana retrasada com o ex-governador José Serra pelo comando do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) hesita em cantar vitória. Diz que está na hora de os tucanos pararem de olhar para o próprio umbigo e de brigar internamente para não perderem o bonde da História. Para começar, defende que o partido amplie seu leque de alianças junto a partidos hoje governistas, como o PSB e setores do PMDB, sem perder de vista, porém, que seu adversário principal é e continuará sendo o PT. Mesmo admitindo que não fará uma oposição como a que os petistas fizeram contra o PSDB, Aécio mostra a língua afiada ao apontar as contradições de seus adversários, como o recente anúncio das privatizações de aeroportos. Identificado hoje como um dos nomes fortes para a disputa presidencial de 2014, Aécio não quer ainda assumir abertamente sua condição de pré-candidato à sucessão da presidente Dilma Rousseff. E resiste também a mudar seu estilo "bon vivant", que o levou recentemente a ter a carteira de habilitação suspensa, após se recusar a fazer o teste do bafômetro numa blitz no Rio.
Adriana Vasconcelos
O senhor se sente vitorioso na disputa travada com o ex-governador José Serra antes da convenção do PSDB?
AÉCIO NEVES: De forma alguma. O PSDB é que saiu vitorioso. Há uma tendência de se achar que vivo em conflito permanente com Serra. Nós somos parceiros de um grande projeto de Brasil. O que prevaleceu foi a seguinte compreensão: ou nós paramos de olhar para os nossos umbigos e passamos a compreender o Brasil com as mudanças que vêm ocorrendo ou perderemos o bonde da História.
Quando os tucanos vão escolher seu candidato para 2014?
AÉCIO: É um equívoco grande antecipar essa discussão. Para chegar em 2014, como uma alternativa viável, temos de passar por 2011, que é o momento da nossa reorganização interna e do resgate das nossas bandeiras. E, em 2012, temos de disputar com força as eleições municipais.
Dizem que a fila no PSDB andou e que agora é sua vez. Concorda?
AÉCIO: Seria um grande equívoco partidário e, no meu caso, pessoal anteciparmos essa decisão. O PSDB tem quadros que vão ser analisados no momento certo. Incluo, além do Serra, os governadores Geraldo Alckmin, Beto Richa, Marconi Perillo. Ficou claro nesta convenção que o candidato do PSDB será aquele que tiver as melhores condições de interpretar esse sentimento difuso da sociedade, agregar outras forças políticas.
Seus aliados elogiam sua capacidade de aglutinação de forças de fora da oposição, mas alguns se preocupam com seu estilo "bon-vivant". Abriria mão disso para chegar ao poder?
AÉCIO: Eu sou um homem do meu tempo e optei desde o início de minha trajetória pública em não adotar a hipocrisia daqueles que têm duas vidas: uma que é real e outra para oferecer à opinião pública. Como qualquer ser humano, cometo erros e acertos. Mas jamais transigi no essencial: na correção e seriedade de minha vida pública.
Em 2010, o PSDB evitou as prévias, e o racha ocorreu mesmo assim. Isso pode se repetir?
AÉCIO: Sempre defendi e continuo defendendo as prévias. Além de democratizarem as indicações dos candidatos, servem para mobilizar o partido. Se tivermos mais de um postulante, as prévias devem ser assimiladas com naturalidade.
Que alianças o PSDB priorizará nas próximas eleições?
AÉCIO: Nossas alianças preferenciais serão com PPS e DEM, mas, sabendo que lá adiante o grande adversário é o PT, será muito natural que o PSDB construa alianças com partidos que hoje estão na base de sustentação do governo do PT, como PSB e com parcelas do PMDB.
O PSDB deve investir mesmo na nova classe média como sugeriu o ex-presidente Fernando Henrique?
AÉCIO: Há hoje uma movimentação de classe que precisa ser compreendida por nós com agilidade e rapidez. Na minha avaliação, o PSDB é hoje o partido da modernidade, enquanto o PT se caracteriza como o partido do atraso, do patrimonialismo e do aparelhamento da máquina pública. Isso dá espaço para que o PSDB seja intérprete dessa nova classe média, crítica em relação à ineficiência e refratária aos desvios éticos do governo.
Como fazer isso?
AÉCIO: Vamos entrar fortemente nas mídias sociais, dialogar com setores não organizados da sociedade, porque é aí que está a oposição real do Brasil hoje. O partidos políticos não têm sido mais os representantes do sentimento de indignação ou de frustração das pessoas.
O senhor concorda que o PSDB deva fazer uma oposição mais dura ao governo do PT?
AÉCIO: Jamais faremos a oposição que o PT fez em relação ao nosso governo. Vamos cobrar, apontar a ineficiência, o aparelhamento da máquina pública e os desvios éticos, mas devemos também apontar caminhos e alternativas ao que está aí.
Qual sua avaliação do governo da presidente Dilma e da crise Palocci?
AÉCIO: O governo construiu base ampla não em torno de um projeto de país, mas em torno da distribuição de espaços. Assim, no primeiro momento de fragilidade do governo, como o atual, a pressão da base cresce.
Que bandeiras o PSDB pretende levantar?
AÉCIO: Nós precisamos resgatar a federação. Grande parte das crises que estamos vivendo deve-se exatamente à concentração de poder financeiro e político do governo federal.
Na última semana, a oposição aprovou a convocação de Palocci na Câmara e derrubou duas MPs no Senado. É o primeiro sinal de reação da minoria?
AÉCIO: Estamos reorganizando nossa tropa e demos demonstração da nossa capacidade de mobilização e de articulação.
Com viu a interferência do ex-presidente Lula na articulação do governo Dilma?
AÉCIO: Todos sabem das relações pessoais que tenho com o presidente Lula. Mas vou ser sincero: acho que a forma como o Lula participou talvez tenha trazido mais danos à presidente Dilma do que o próprio episódio envolvendo Palocci.
FONTE: O GLOBO
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