O Planalto jogará sua força política para barrar a convocação da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para depor no Congresso sobre seu suposto envolvimento com o caso dos aloprados
Governo blinda Ideli e jogará pesado contra convocação sobre aloprados
Mercadante falará hoje, mas Planalto não permitirá que ministra seja chamada
BRASÍLIA e SÃO PAULO. O governo decidiu jogar todo o seu peso político para barrar a convocação da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para depor no Congresso sobre seu suposto envolvimento com a distribuição de um dossiê contra o ex-governador José Serra, o chamado escândalo dos aloprados. Os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disseram ontem que não vão permitir que a ministra seja chamada para dar explicações sobre os aloprados.
O governo adotou estratégia diferente no caso do ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, também acusado de envolvimento com os aloprados. Antes mesmo de ser convocado, Mercadante decidiu que falará sobre o assunto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), do Senado, a partir das 10h de hoje. Mercadante dispensou a ajuda de Jucá e até de colegas do PT. Ele estaria disposto a falar mesmo que não seja questionado pela oposição sobre o assunto. No caso de Ideli, a estratégia é evitar a exposição da ministra.
- Não vamos permitir a convocação da ministra Ideli. O envolvimento do seu nome nessa história é um jogo político da oposição. Não vamos cair nesse jogo aqui. O ministro Mercadante já estava marcado e não tinha por que desmarcar. Ele não disse que quer falar sobre aloprados, mas, se alguém provocar, ele vai responder - disse Jucá.
Vaccarezza disse não ver necessidade de convocação ou convite a Ideli. Para o deputado, o assunto surgiu há seis anos, as investigações não avançaram e não há qualquer fato novo que justifique a cobrança de explicações da ministra. Para Vaccarezza, a situação de Mercadante é diferente. O ministro já teria depoimento marcado na CAE e, portanto, não haveria problemas em dar eventuais explicações sobre seus supostos vínculos com os aloprados.
- Não tem sentido convocar ou convidar Ideli para tratar disso. Não tem nada de novo - disse o líder governista.
Mas falta sintonia na base governista. Antes das declarações de Jucá e Vaccarezza, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), um dos principais aliados do governo, cobrou explicações dos dois ministros.
- Se agiu corretamente, não há por que deixar de fornecer as explicações que o Congresso pede - disse Sarney.
Mercadante está sendo acusado de participar da operação de compra do dossiê produzido por Luiz Antônio Vedoin, preso em 2005 por chefiar a máfia da venda de ambulâncias superfaturadas, caso conhecido como o escândalo dos sanguessugas.
Segundo a revista "Veja" desta semana, Ideli participou de uma reunião no gabinete de Mercadante em 4 de setembro de 2006 para definir a estratégia de divulgação do dossiê para prejudicar Serra, então candidato ao governo de São Paulo.
O presidente da CAE, senador Delcídio Amaral (PT-MT), também entende que Mercadante deve se explicar.
- É uma oportunidade para que ele, se perguntado, use a comissão para dar as explicações - disse o senador.
Em nota divulgada ontem, Ideli negou que tenha qualquer ligação com a produção do dossiê: "Nunca elaborei nem participei da confecção de dossiês políticos". Segundo ela, "é falaciosa a tentativa de me envolver na participação da elaboração do suposto dossiê".
Para Mercadante, "tentar envolver Ideli é inaceitável"
Ontem, em São Paulo, Mercadante, após um almoço-debate com empresários paulistas, reagiu às acusações contra Ideli.
- Cinco anos depois, tentar envolver a Ideli porque ela acabou de virar ministra, sem nenhuma base, sem nenhum indício, sem nada que possa levar a esse raciocínio, é inaceitável - afirmou o ministro.
Segundo a "Veja", no dia 4 de setembro de 2006, a então senadora Ideli Salvatti (PT-SC) teria participado das negociações para a compra do dossiê falso contra Serra. De acordo com a revista, depois dessa reunião, ela teria ficado com a tarefa de divulgar o falso dossiê.
Falando ontem a cerca de 230 empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), Mercadante lembrou que na época foi aberta uma CPI.
- A Procuradoria Geral da República foi rigorosa, e o Superior Tribunal de Justiça arquivou a investigação. Essa história só voltou à tona agora porque o (ex-governador de São Paulo) Quércia morreu e não pode se defender. Minha vida pública é transparente. A verdade já prevaleceu uma vez e vai prevalecer de novo.
Segundo ele, se estivesse vivo, Quércia - que apoiou Serra na última campanha presidencial e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) em nível estadual - desmentiria a notícia.
- Essa notícia jamais poderia ser publicada se o Quércia estivesse vivo. Por que só poderia ser publicada depois que ele morreu? Porque ele estaria aqui para desmentir. Só estou eu para dizer, que nunca tive qualquer relação com o Quércia, nunca fui aliado.
FONTE: O GLOBO
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