Ex-presidente diz que desunião provocou sua maior crise e exige apoio a Dilma
"Todo mundo aqui é maduro, é cientista político", disse Lula, que revelou encontro com a presidente em Brasília
Mariana Carneiro
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu ao passado para cobrar da bancada petista unidade e apoio ao governo da presidente Dilma Rousseff em sua primeira crise política.
Lula, que participou de um encontro do PT de São Paulo, fez referências ao principal escândalo de seu governo, o mensalão, para mobilizar os petistas.
"Eu sei, o Zé Dirceu sabe, o João Paulo [Cunha] sabe, o Ricardo Berzoini sabe, que um dos nossos problemas em 2005 era a desconfiança entre nós, dentro da nossa bancada", disse Lula, ao lado do ex-ministro José Dirceu.
"A crise de 2005 começou com uma acusação no Correio, de R$ 3 mil, o cara envolvido era do PTB, quem presidia o Correio era o PMDB e eles transformaram a CPI dos Correios, para apurar isso, numa CPI contra o PT, contra o Zé Dirceu e contra outros companheiros. Por quê? Porque a gente tava desunido", concluiu.
Lula se referiu ao episódio envolvendo o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho, filmado recebendo R$ 3.000 para favorecer uma empresa em licitação.
Marinho foi indicado ao cargo pelo PTB do então deputado Roberto Jefferson, que, em seguida, em entrevista à Folha, denunciou o esquema de compra de apoio político pelo governo.
Neste momento, Lula atua para controlar o PT, tentando evitar que as disputas internas do partido atrapalhem o governo Dilma.
Na semana passada, ressentido por ter sido preterido na sucessão da Secretaria de Relações Institucionais, o PT da Câmara afrontou Dilma ao pôr em pauta projetos que contrariam a vontade do governo, por implicarem em gastos novos.
A falta de apoio do PT também foi fator decisivo para queda de Antonio Palocci da Casa Civil, já enfraquecido pela revelação da multiplicação de seu patrimônio, feita pela Folha.
Para Lula, as divergências do partido devem ser resolvidas internamente. "A gente se reúne, tranca a porta e se atraca lá dentro", disse.
O ex-presidente revelou que esteve em Brasília sexta-feira, quando conversou com Dilma. Mas disse que não pretende interferir na articulação política do governo.
"Tem deputado me ligando, querendo conversar. Vocês têm que resolver entre vocês. Todo mundo aqui é maduro, é cientista político. Temos que dar tranquilidade à nossa companheira Dilma"
Dirceu falou em seguida, num discurso afinado. "Não podemos ficar discutindo se o ministro tem que ser A ou B, se tem quer ser desse ou daquele partido. Isso é atribuição da presidenta", afirmou.
PRAGMATISMO
No encontro, Lula defendeu, assim como outras lideranças petistas, que o PT faça alianças nas eleições do ano que vem, a começar pelas cidades paulistas.
"O ideal em 2012 seria um a chapa puro-sangue, com prefeito, vice e vereadores petistas", afirmou, muito aplaudido. "Mas existe pouca chance de isso acontecer em vários lugares".
Apesar de dar ênfase nas eleições municipais, Lula disse que a estratégia dará força ao PT em 2014. "Tá chegando a hora do PT governar São Paulo".
Petista sai em defesa do prefeito de Campinas
O ex-presidente Lula também saiu em defesa ontem do prefeito de Campinas, Doutor Hélio (PDT).
A mulher dele, Rosely Nassim, e o vice-prefeito Demétrio Vilagra, que é do PT, são acusados pelo Ministério Público de fraude e desvios na prefeitura.
Para o ex-presidente, as acusações são políticas. "Os adversários não brincam em serviço. Toda vez que o PT se fortalece, eles saem achincalhando."
"Não vamos esquecer: em 1989, tentaram colocar uma camisa do PT num dos sequestradores do Abílio Diniz", afirmou.
Naquele ano, quando Lula disputava a Presidência da República, os sequestradores do empresário estavam vestidos com camisetas do partido nas imagens que foram divulgadas.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário