Dilma Rousseff estava à vontade e de calças jeans no longo voo até a China, depois de avisada pelo Itamaraty de que não haveria nenhuma autoridade à sua espera. No desembarque, Antonio Patriota volta ao avião, esbaforido, para dizer que ninguém menos que o vice-presidente chinês fora recebê-la. Dilma ficou uma fera e deu uma bronca no chanceler. Quem haverá de lhe tirar a razão?
Mais adiante, Patriota se reuniu com Hillary Clinton nos EUA, e juntos deram uma entrevista coletiva em que o chanceler foi pródigo em obviedades e econômico em informações relevantes. Conclusão: não saiu nada na primeira página dos jornais brasileiros. Um espanto. Alguém consegue imaginar um encontro de Celso Amorim com a secretária de Estado dos EUA passando em branco?
É assim que Patriota, pianista, estudioso de música clássica, que fala fluentemente várias línguas e é o típico primeiro de turma, vai deslizando da condição de invisível para a de insignificante. Política externa se faz por gestos, atos e palavras. Não mudo, imóvel, nos bastidores. Dilma não está gostando.
Em dois tremeliques, porém, não se debite a culpa a Patriota: na desfeita com a Prêmio Nobel da Paz Shirin Ebadi, a iraniana que foi esnobada pela presidente, e no silêncio ensurdecedor do Itamaraty diante da crise com a Itália pela não extradição de Cesare Battisti.
Os anfitriões de Ebadi foram para o ataque, reclamando publicamente que Dilma não a incluíra na agenda. A presidente se sentiu pressionada e bateu pé: "Ah, é? Agora é que não recebo mesmo".
No caso Battisti, a posição vem desde Amorim: se Lula se deixou levar por Tarso Genro, que passou por cima do Itamaraty e da Justiça para manter o italiano no Brasil, a diplomacia tirou o time de campo e opera no vestiário. Amorim fingiu que não era com ele, Patriota foi atrás. Aí, inverte-se o jogo: quem haverá de lhes tirar a razão?
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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