Fora do PV, ex-senadora diz que não usará "melancia no pescoço" para ficar em evidência
Bernardo Mello Franco e Italo Nogueira
SÃO PAULO - Sem partido e sem mandato pela primeira vez em 30 anos, a ex-senadora Marina Silva afirma ter deixado o PV sem uma fórmula para não submergir na cena política.
Ela reconhece que deve perder visibilidade, mas diz não estar "ansiosa" para se manter em evidência.
O problema preocupa aliados da ex-presidenciável, que planeja fundar uma sigla para concorrer novamente ao Planalto em 2014.
"Temos que abaixar a ansiedade com essa coisa de ser visto. Não vou ficar com uma melancia no pescoço, fazendo cambalhota para ser vista", disse Marina à Folha.
Ela deixou claro que continuará a militar na área ambiental em Brasília, mesmo após romper com o PV.
"Vou entrar nas causas que são importantes e justas, mesmo que sejam causas perdidas", disse, citando a luta contra as mudanças no Código Florestal. "Estou nessa agenda há muito tempo e jamais deixaria de estar por não ter a certeza do sucesso."
Sem gabinete, Marina quer usar órgãos ainda incipientes, como o IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) e o fórum de ex-ministros do Meio Ambiente, para dar respaldo institucional às suas aparições públicas.
O Instituto Marina Silva, que segundo ela será dedicado a ações de educação ambiental, ainda não tem sequer uma sede própria.
"É algo pequeno, como uma tenda. As pessoas não conseguem entender isso. Depois de ter 20 milhões de votos, acham que você deve ir para uma torre, um palácio. Eu estou indo para uma tenda, uma coisa modesta."
MESSIANISMO
Após criticar todos os partidos no ato que marcou sua saída do PV, anteontem, Marina demonstrou incômodo com as críticas contra uma suposta tendência messiânica -que ela descreve como um "rótulo" a evitar.
Mas afirmou ter dificuldade em "administrar o carisma" com os seguidores.
"A coisa mais difícil que tem é administrar o carisma. Porque as lideranças carismáticas podem pensar que podem tudo. E isso é uma ilusão, não podem. A melhor forma é saber que o carisma não deve ser usado de qualquer forma", disse. "As lideranças carismáticas, messiânicas, talvez tenham cumprido um papel na História."
Em outro momento da entrevista, Marina, que foi a única presidenciável evangélica em 2010, citou lição de Jesus Cristo sobre o tema.
"Jesus nunca se deixou aprisionar pelas armadilhas nem do seu carisma nem do seu poder", afirmou.
A ex-senadora sugeriu que seu "sofrimento" por abandonar o PV foi menor do que o da saída do PT, em 2009. "Seria hipocrisia dizer que foi maior agora. São sofrimentos diferentes", disse.
Ao ser questionada sobre os novos capítulos do processo do mensalão, ela ficou com os olhos marejados e disse estar "triste" com o pedido de prisão para ex-colegas de sigla como o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil).
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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