NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS
Ex-presidente passou a campanha eleitoral dizendo que escândalo era farsa montada pela oposição contra o PT
Germano Oliveira
SÃO PAULO. Depois de dizer na campanha eleitoral do ano passado que o mensalão era "uma farsa montada pela oposição" para prejudicar o PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis comentar ontem a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de pedir ao Supremo Tribunal Federal a condenação de 36 dos 38 réus do mensalão. Segundo a assessoria do ex-presidente, Lula não tem o que dizer sobre o caso porque não é réu.
- Lula está mais interessado hoje (ontem) em discutir a pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) que fala sobre a expansão da classe C - disse a assessoria do ex-presidente.
Em maio de 2005, quando o escândalo estourou, Lula negou a existência do mensalão, dizendo que a denúncia era uma "peça de ficção". Meses depois, já com o avanço das investigações que comprovaram a denúncia feita pelo então presidente do PTB, Roberto Jefferson, ele insistiu em negar a existência.
- Eles categoricamente disseram que isso era uma peça de ficção, que não existia mensalão dentro do Congresso. E pelo que consta, até agora, não foi provado que tem mensalão. Até agora, o que foi cassado (Jefferson), foi cassado porque contou uma inverdade sobre o Congresso Nacional - disse Lula na época.
Caixa dois para campanhas
Lula afirmou que o dinheiro foi usado pelo PT para saldar dívidas de campanhas eleitorais (2002 e 2004) e que os recursos eram de caixa dois e que todos os partidos faziam o mesmo. Sobre a iminente cassação do então deputado José Dirceu, seu ex-ministro da Casa Civil, Lula disse que "fatalmente" aconteceria "por motivações políticas" de adversários.
Lula não mudou a versão nem após o STF, em agosto de 2007, iniciar julgamento dos 40 denunciados pela Procuradoria Geral da República, incluindo José Dirceu, apontado como chefe do esquema. O STF recebeu praticamente todas as denúncias contra os acusados. Meses depois, a Justiça excluiu alguns nomes, como o de Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT. Agora, o ex-ministro Luiz Gushiken foi excluído pelo STF. A ministra Carmen Lúcia entendeu que ele nada tinha a ver com desvios na diretoria de marketing do Banco do Brasil, que seria um dos abastecedores do mensalão.
Depois, em 2008, descobriu-se que o banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, foi uma das fontes dos recursos do mensalão, embora o banqueiro negue. As investigações apontaram que as empresas de telefonia do grupo injetaram R$127 milhões nas contas da DNA Propaganda, de Marcos Valério, o homem que fazia os pagamentos do esquema ilegal. Em 2011, após os dois mandatos de Lula, relatório da PF confirmou a existência do mensalão.
Lula e a direção do PT sempre disseram que as denúncias eram falsas e criadas por inimigos políticos. Com o aparecimento de documentos e testemunhas que confirmaram as denúncias, o PT passou a defender a tese de que não houve pagamentos de propina a deputados, mas acertos de campanhas com empréstimos não declarados à Justiça Eleitoral. Ao ser ouvido no processo do mensalão no ano passado, Lula defendeu Dirceu e disse que soube do mensalão no primeiro semestre de 2005, por meio de Jefferson.
FONTE: O GLOBO
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