Não há qualquer justificativa moral para o uso do helicóptero da Polícia Militar do Estado do Maranhão, adquirido e reservado para a função de transporte de emergência de doentes para transportar o Senador do Amapá (não do Maranhão onde mora) e presidente do Senado José Sarney, para a sua ilha particular, sem agenda oficial, ainda mais atrapalhando e atrasando uso da aeronave por pessoa necessitada.
Essa historinha de que o fato de ser chefe de um dos poderes da República lhe confere esse direito é pura embromação de quem foi pego com a boca na botija, utilizando uma rede familiar e “coronelística” na qual o interesse particular se confunde e se mistura com a administração pública.
Não era transporte custeado pelo Senado, nem requisitado às Forças Armadas, não era programa nada oficial. É apenas coincidência que a governadora do Estado, portanto chefe da Polícia Militar, seja filha do viajante senador.
Sob todas as óticas, independentemente dos aspectos legais, revelou-se aí a mais pura e simples sobrevivência do coronelismo, do mandonismo, do patrimonialismo. É o sinhozinho e a sinhazinha mandando no Estado, como mandavam os senhores de escravos até o século XIX.
O que se revela revoltante e deprimente não é uma possível justificativa do acontecimento. É até plausível que um chefe de poder tenha direito a transporte e segurança sob condições, normas e responsabilidades de custeio regulamentadas. O revoltante e deprimente é a forma moralmente indigente e a desfaçatez como o episódio foi tratado pelos personagens envolvidos. Tratam a coisa pública como se fosse a cozinha da sua casa, se julgam imunes às normas e leis, não tem qualquer condescendência ou mesmo educação e civilidade para com os outros.
E o que mais assusta é ver coisas como essa serem encaradas como normais, “coisas de esperto”, e servirem de exemplo para vereadores, prefeitos, secretários, deputados, e “otoridades” diversas utilizarem dos bens públicos para suas necessidade pessoais e familiares.
Se o sinhozinho Sarney, chefe de um poder da República, que já foi até reverenciado pelo ex-presidente do Brasil, Lula, como uma pessoa que “não é uma pessoa qualquer”, faz assim porque que não faço da mesma forma no meu pedaço de poder.
Urbano Patto, Arquiteto Urbanista e Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista -PPS- do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com.
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