Os dados são de julho (e já estamos em meados de setembro), mas esse "registro de retrovisor" não elimina o fato nem reverte a tendência: o consumo interno, embora mais atenuado do que há alguns meses, continua aquecido e vai puxando mais inflação para dentro da economia.
O IBGE mostrou ontem que, em julho, o volume físico das vendas ao varejo aumentou 1,4% em relação ao mês anterior e perfez um avanço de 8,5% em 12 meses. O chamado varejo ampliado, que inclui veículos, motos (mais peças) e materiais de construção, ficou 0,6% maior em julho e 10,5% em 12 meses (veja o gráfico).
Os técnicos do IBGE chamam a atenção para o fato de que o mercado varejista completou três meses consecutivos de avanços em volume de vendas e 16 meses consecutivos de aumento nominal de faturamento.
Como a atividade produtiva está em franca desaceleração e o próprio avanço do PIB neste ano se encaminha para alguma coisa em torno dos 3,3% - depois de ter emplacado 7,5% em 2010 -, fica claro que é o consumo varejista (demanda das famílias) que continua sendo a principal força do crescimento econômico do País, fato que as Contas Nacionais já haviam apontado no segundo trimestre deste ano.
A outra conclusão é a de que, diante da desaceleração do setor produtivo, são as importações que vêm sendo chamadas para suprir um pedaço crescente do suprimento interno. Os últimos dados do Ministério do Desenvolvimento, que chegam até o dia 9 de setembro, são de que as importações em 2011 crescem a um ritmo de 27,0%, um desempenho excepcional em tempos de crise global.
O consumo interno continua sendo turbinado por três fatores: (1) pelo aumento de renda que, por sua vez, está sendo proporcionado pelo avanço das despesas correntes do governo federal, a um ritmo de 10,8% ao ano (até julho); (2) pelo crescimento da massa salarial, com alta de 6,0% registrada em julho, em comparação com o mesmo mês em 2010; e (3) pelo avanço do crédito, que, também até julho, vinha sendo de 19,8% em 12 meses.
Esse comportamento do varejo, conjugado com o forte desempenho do setor de serviços (crescimento de 6,8% no ano até agosto) conspira contra as apostas do Banco Central, que conta com o recuo da inflação (medida em 12 meses) a partir deste setembro ou outubro.
O Banco Central está convencido, também, de que a crise externa provocará forte desinflação global, cujo principal efeito no mercado interno serão a desaceleração da remarcação de preços e, em seguida, a redução da inflação.
Mas pode estar acontecendo o contrário. Até agora, a queda global de preços ainda não aconteceu. Além disso, a crise externa está puxando para cima as cotações do dólar no câmbio interno, fator que, por sua vez, tende a elevar os preços dos produtos importados e, por essa via, provocar alta de preços - e não a baixa em que aposta o Banco Central.
O maior risco político que corre o governo federal é o de estar patrocinando agora uma queda prematura dos juros básicos (Selic) e de ter de admitir uma volta ao aperto monetário no ano que vem, no meio de um ano eleitoral.
CONFIRA
Dos Brics para os Piigs
Ninguém tinha levado a sério o boato de que a China se prontificou a comprar títulos da dívida da Itália. Mas o jornal Valor noticiou ontem a ampliação da oferta. Não só a China, mas as cinco letras da sigla Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) negociam um plano salvador para os Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).
Os russos fora dessa
Ontem pela manhã, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, falando em nome do B dos Brics, parecia confirmar entendimentos nesse sentido. Mas, logo em seguida, "alta fonte do Kremlin" afirmou à AFP que a Rússia poderia examinar a proposta, mas não no âmbito do Brics.
Segurança acima de tudo
E à tarde, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Luiz Mendes, esclareceu que o principal objetivo das reservas externas não é salvar países endividados: "O primeiro objetivo é segurança; o segundo, liquidez; e o terceiro, rentabilidade". Mendes tocou seu violino em outro tom.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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