Raquel Ulhôa, Cristiano Romero e Raymundo Costa
Brasília - Aproveitando-se da presença de cerca de 2 mil prefeitos em Brasília, o comando do PMDB espera reunir de 3 a 4 mil filiados com mandato no encontro a ser realizado amanhã, numa exibição de força no momento em que o governo anuncia que deve mudar o ministério até fevereiro de 2012. A presidente Dilma Rousseff já teria tomado a decisão de demitir o ministro do Turismo, Pedro Novais. O anúncio deve ser feito hoje ou amanhã. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), indicou como substituto o deputado federal Marcelo Castro (PMDB-PI). Mas antes de bater o martelo sobre o novo ministro, Dilma pretende se reunir com o vice-presidente Michel Temer.
A projeção inicial do PMDB para o encontro de amanhã era bem mais modesta. Ele será uma espécie de "grito de guerra" para as eleições de 2012. Com o objetivo de crescer e continuar o maior partido do país - preparando-se para voo solo no futuro, sem o PT -, não haverá veto a quaisquer alianças eleitorais. "Estará todo mundo pintado de guerra", diz o presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO).
A presidente Dilma Rousseff é aguardada nesse encontro - "histórico para o partido", segundo Raupp. A presença de Dilma não era prevista na programação original. Só nas últimas 24 horas, após discussões internas, o partido configurou e algumas bandeiras como prioridades do partido, como saúde, educação, meio ambiente e segurança pública. O apoio às políticas para a consolidação da nova classe média também deve ser assumida pelo partido.
Para os dirigentes do PMDB, sem conteúdo programático o partido sairia perdendo na comparação com o 4º Congresso do PT, realizado há duas semanas, quando o aliado elaborou uma resolução política densa, ao final de sua reunião. É possível que o PMDB também anuncie a realização próxima de um Congresso. Nesta quarta-feira a executiva se reunirá com o vice-presidente da República, Michel Temer, presidente licenciado do partido, para definir uma pauta de assuntos que poderão ser discutidos, fora dos painéis temáticos. A reunião, na realidade, deve apenas formalizar os entendimentos mantidos desde anteontem entre Temer, Padilha, Raupp e ministros e intelectuais ligados ao PMDB.
A demonstração de força do PMDB é observada de perto pelo PT como parte de uma articulação de longo prazo que levará ao desembarque pemedebista da aliança. As eleições municipais serão o primeiro palco desse embate. Tanto que as estrelas principais da reunião serão potenciais candidato, como o deputado Gabriel Chalita, que deve disputar a Prefeitura de São Paulo, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, candidato à reeleição.
"São Paulo e Rio de Janeiro são as vitrines das eleições municipais, e Chalita e Paes são os nossos nomes nessas capitais em 2012", afirmou o deputado Eliseu Padilha (RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães, o órgão de estudo e formação política do partido. Chalita falará no painel sobre educação e Paes, sobre segurança dos cidadãos.
O PMDB tem, hoje, 1165 prefeitos e quer eleger 1300 em 2012. Para as capitais, a meta é pelo menos dobrar os chefes do Executivo. Hoje são três (Campo Grande, Florianópolis e Rio de Janeiro). Para isso, não haverá vetos a alianças. A decisão será do diretório municipal, com anuência do estadual. "Não nos metemos nisso", diz Raupp.
A estratégia será apresentar candidato próprio a prefeito e vice-prefeito e chapa completa de vereadores para a eleição de 2012. O objetivo é aumentar o cacife da legenda no país todo para obter boas compensações políticas nas negociações de alianças com os demais partidos. Para abrir mão de uma candidatura, a sigla espera ter, em troca, espaço relevante no governo municipal.
Em Belo Horizonte, o deputado Leonardo Quintão pretende buscar apoio do PSDB à sua candidatura a prefeito, apostando no fracasso da tentativa do prefeito Márcio Lacerda (PSB) de reeditar a aliança que reúne PT e PSDB. Em Recife, foi definido ontem que o candidato a prefeito será o deputado Raul Henry, que deve buscar aliança com PSDB, DEM e PPS. Em Salvador, o candidato será o ex-prefeito Mário Kertz.
A demonstração de força do PMDB ocorre num momento em que se esboça uma crise na bancada na Câmara dos Deputados, diante da notícia de que a presidente Dilma Rousseff não quer que o atual líder Henrique Eduardo Alves seja o próximo presidente da Casa. A proximidade entre Henrique e o deputado Eduardo Cunha (RJ) é o motivo da má vontade presidencial. O PT afirma que apoiará o nome a ser indicado pelo PMDB. O desafio de Temer e Henrique é convencer também a bancada, que se ressente do tratamento privilegiado dado a Eduardo Cunha.
O encontro do PMDB, não por acaso, coincide com a marcha de 2.000 prefeitos a Brasília para reivindicar pressa do Congresso em votações como a Emenda 29, que prevê mais recursos para a Saúde. Os prefeitos foram recebidos pelo presidente da Câmara, Marco Maia, que assegurou a votação da emenda no próximo dia 28.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, afirmou que os municípios gastam 22% dos seus orçamentos com saúde - sete pontos percentuais a mais que o previsto em lei, enquanto a União não tem investimento mínimo determinado pela Constituição. "Está claro na Constituição que a Saúde será financiada pela vinculação de receita. Queremos que essa receita seja vinculada ao Orçamento da União", disse.
Os prefeitos também reivindicam o encontro de contas entre os municípios e a União. Eles reclamam que cerca de 3.500 municípios vêm sendo cobrados por uma dívida que pode chegar a R$ 23 bilhões de com a Previdência Social. No entanto, segundo Ziulkoski, o Estado deve cerca de R$ 30 bilhões entre compensações e dívidas previdenciárias. (Colaborou Daniela Martins, de Brasília)
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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