Com a vitória da revolução cubana, em 1959, o continente latino americano foi varrido por uma vaga de um utopismo revolucionário que tinha na luta de guerrilha sua pedra de toque, envolvendo, sobretudo, parcelas significativas de jovens, intelectuais, trabalhadores do campo e da cidade e importantes setores da igreja católica, que viam nesse processo o horizonte de uma nova realidade para nossos povos.
A ilusão foquista de instalar “mil Vietnans” por meio da luta armada e, assim, construir a via para o socialismo e quebrar a hegemonia do imperialismo americano resultou em um enorme fracasso, e uma efetiva regressão dos princípios democráticos com a instalação de ditaduras militares que nos anos 60 e 70 do século passado, infelicitaram nuestra América.
Superar esse profundo equívoco histórico custou milhares de vidas em todos os países da América Latina.
Mas o superamos!
Hoje está claro, para a ampla maioria das forças de esquerda, que o caminho da legalidade democrática, da construção de consensos por meio de eleições legítimas, sob o olhar crítico e fiscalizador de uma imprensa livre é a melhor maneira de conquistar uma sociedade justa e fraterna.
A Argentina que terá uma nova eleição presidencial, no dia 23 deste mês, foi um dos países que mais sofreram com a violência política, graças a implantação de uma das ditaduras mais bárbaras que infelicitou a América do Sul, cuja ação criminosa legou um record macabro de mais de 30 mil mortes e desaparecidos.
O aparecimento do candidato da Frente Ampla Progressista (FAP), Hermes Binner, do Partido Socialista, que desponta em segundo lugar nas pesquisas de opinião, representa um alento para a superação do velho peronismo redivivo, e uma certeza do fortalecimento de uma esquerda comprometida com a ampliação e aprofundamento da democracia. Hermes Binner destacou-se por sua gestão política decente e transparente à frente da prefeitura de Rosário e da província de Santa Fé. Conseguiu reunir em torno de sua candidatura a maioria das forças da esquerda democrática argentina na "Frente Amplio Progressista", que já desponta como forte opositora ao peronismo.
O crescimento de Binner é uma demonstração de que há uma esquerda cujas origens estão nos antigos movimentos comunistas e socialistas na Argentina que sempre se opuseram ao peronismo. Sua candidatura é uma oposição clara e consistente ao governo comandado por Cristina Kirchner, do Partido Justicialista.
O que acontece no país vizinho é um movimento de aglutinação das esquerdas democráticas em oposição ao populismo peronista. O mesmo fenômeno ocorre em outros países latino-americanos, numa clara busca de alternativas políticas ao peronismo na Argentina, chavismo ou bolivarianismo na Venezuela e mais recentemente ao lulismo, no Brasil.
Mais uma vez, vê-se o continente diante das velhas propostas populistas e autoritárias que buscam preservar os interesses das velhas corporações e setores oligárquicos cujo enfrentamento por uma esquerda moderna e comprometida com a democracia é um fator decisivo para a constituição de um novo tipo de Estado e de cidadania na América Latina.
* Roberto Freire é presidente nacional do PPS e deputado federal eleito por São Paulo.
FONTE: PORTAL DO PPS
Nenhum comentário:
Postar um comentário