Conjuntura política dos tucanos para a sucessão à Prefeitura de São Paulo em 2012 tem, inclusive, mesmos protagonistas: Serra e Alckmin
Julia Duailibi
"Eu vou apoiar quem vier a ser o candidato do PSDB. O Serra não se dispôs a ser e não é verdade que eu esteja forçando ele a se candidatar, como foi publicado na imprensa", afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Acho muito difícil (Serra se tornar candidato a prefeito). Não pelo partido, mas pela disposição do Serra", declarou o governador paulista Geraldo Alckmin.
As declarações acima remetem para a atual conjuntura política. Mas foram feitas em 2004. Sete anos depois de o PSDB ter sido protagonista da novela para escolher o candidato a prefeito de São Paulo, o partido edita trama parecida, na qual os personagens e conflitos são os mesmos. Nos últimos dias, até os detalhes do enredo foram repetidos.
Em 2004, o ex-governador José Serra, então candidato derrotado à Presidência da República dois anos antes, não queria ser candidato a prefeito. Sua meta era trabalhar pelo País de modo a viabilizar uma candidatura ao Palácio do Planalto novamente.
Alckmin, então governador, se viu às voltas com quatro outros pré-candidatos, que pressionavam para disputar uma pré-convenção - expressão usada no tucanato naquela época para evitar o termo "prévias", que causava arrepios na cúpula partidária.
O governador começou a costurar nos bastidores com um único objetivo: ganhar tempo. Queria evitar que a pré-convenção ocorresse muito cedo e se tornasse um fato consumado, o que dificultaria articulações para, por exemplo, convencer Serra a se tornar candidato. Alckmin chegou a convocar para uma reunião no Palácio dos Bandeirantes os quatro pré-candidatos - os então deputados José Aníbal, Walter Feldman e Zulaiê Cobra e o secretário de Segurança, Saulo Abreu. No encontro, expôs a preocupação com a situação e tentou ganhar tempo.
Hoje os tucanos reeditam a história. Alckmin, também às voltas com quatro pré-candidatos, os convocou para um encontro no Palácio dos Bandeirantes na noite deste domingo. A reunião foi marcada com a mesma intenção do passado: ganhar tempo.
Data. Na reunião de hoje, Alckmin pedirá aos tucanos que aceitem realizar as prévias em março. A ação do governador, que deve conseguir "convencer" os pré-candidatos do partido, atropelará decisão do próprio PSDB.
O Estado teve acesso à ata de reunião da Comissão Executiva do Diretório Municipal do partido, no dia 27 de outubro, que marca para janeiro as prévias. "Em relação à data para a realização das prévias, havendo duas propostas, dezembro de 2011 e janeiro de 2012, o presidente (Julio Semeghini) colocou em votação. Foi aprovado em janeiro de 2012", conclui o documento.
Alckmin avalia que março dará mais tempo para o partido negociar alianças e ter um quadro mais claro da disputa. Três dos quatro pré-candidatos, que são secretários, Andrea Matarazzo (Cultura), Bruno Covas (Meio Ambiente) e José Aníbal (Energia), tendem a aceitar o acordo. O deputado Ricardo Tripoli tem defendido a tese de que a disputa deve ser realizada até janeiro.
Para os defensores da postergação, março dá mais tempo para debater internamente a tese da aliança com o PSD, do prefeito Gilberto Kassab. O governador é pressionado por setores do partido a fazer uma coligação com a nova legenda e lançar candidato a prefeito o vice-governador Guilherme Afif Domingos. O PSDB entraria com o tempo de TV e a indicação do vice. Em troca, teria o apoio de Kassab no projeto de reeleição em 2014.
Segundo relatos de aliados, o governador ainda vê com desconfiança o acordo e aposta na construção de um arco de alianças forte, de modo que o candidato tucano tenha tempo de TV.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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