O ministro das Cidades, Mário Negromonte, repete o comportamento de seu antecessor na crise, Carlos Lupi, do Trabalho, ambos alternando reações de força e fragilidade no exercício de malabarismo a que se entregaram para permanecer no cargo. É o "efeito frigideira" produzido pela estratégia que a presidente Dilma Rousseff parece ter adotado de expor as vísceras de um modelo político esgotado.
Na contramão do conceito presidencialista, a presidente transfere aos partidos a prerrogativa exclusiva de chefe da Nação, de nomear e demitir auxiliares. Numa espécie de júri popular informal, deixa que acusados e seus partidos discutam a responsabilidade pelos desvios amplamente materializados em suas pastas, num strip-tease público.
Nessa ópera política, a hemorragia parece fora do organismo do governo e sugere que ministros e ministérios são um universo à parte. As pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto funcionam como termômetro a medir a temperatura do paciente, sua chance de sobrevivência e o tratamento a ser aplicado. No limite, faz-se o transplante: sai o ministro A e entra o ministro B - da mesma legenda.
Lupi disse que só sai à bala e Negromonte, acusado de promover um "mensalinho" em seu partido, ameaçou a bancada de abrir o verbo. Ambos recuaram - Lupi com um "eu te amo Dilma" e Negromonte, aos prantos, jurando inocência.
Esse teatro reflete a falência do modelo de ministério de porteira fechada, aparelhado do ministro ao porteiro - e o processo de fritura convém a um governo condenado a mudar aquilo que dissimula ter ajudado a construir.
Reforma vira uma panacéia
A decisão de manter Lupi e Negromonte até janeiro agrava o ônus do governo com uma reforma ministerial convincente, que signifique o fim da porteira fechada e uma máquina bem mais enxuta e eficiente. O caso de Negromonte é considerado mais difícil de sustentar por se tratar de uma fraude para viabilizar algo que já recebera o aval do governo (a presidente Dilma apareceu em propaganda apoiando o projeto de VLT), o que facilita sua exploração pela oposição.
Só pensa naquilo
O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), pavimenta o caminho de volta à presidência do Senado, de onde saiu para evitar a cassação, em 2007. Ele estimula a candidatura de Eduardo Braga (PMDB-AM), seu maior rival, à Prefeitura de Manaus em 2012. Para Braga, é tentador: eleito prefeito, sua mulher, Sandra Braga, assume como suplente até 2018 e ele tenta a reeleição a governador em 2014.
PR encolhe
O PR encolhe depois do escândalo dos Transportes. Até agora, o partido do mensaleiro Valdemar Costa Neto (SP) perdeu cinco deputados e um senador, para PMDB e PSD. Mais dois senadores flertam com o PMDB - Blairo Maggi (PR-MT) e Antonio Russo (PR-MS). Além disso, o senador Vicentinho Alves (PR-TO) corre o risco de perder o mandato caso o Supremo Tribunal Federal (STF) emposse o peemedebista Marcelo Miranda (TO), eleito em 2010, mas barrado pela Lei da Ficha Limpa. Já deixaram o partido os deputados Dr. Paulo César (RJ), Liliam Sá (RJ), Homero Pereira, (TO) Sandro Mabel (GO), Edson Giroto (MS) e o senador Clésio Andrade (MG).
Modelo ideal
A África do Sul realizou o sonho do PT: proibiu o jornalismo.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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