quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

As revelações de 2011 :: Julio Gomes de Almeida

O ano de 2011 deixa revelações da maior importância para o mundo e para o Brasil. A economia americana se mostrou fraca, pois o seu atual padrão de crescimento não é suficiente para alterar a condição de alto desemprego e não imprime maior velocidade ao lento processo de desendividamento familiar, o que freia o consumo. Mas dá sinais de força, já que ensaia uma reindustrialização e parece mais robusta do ponto de vista bancário e financeiro. De resto, o embate político paralisa a execução de políticas de estímulo fiscal que poderiam intensificar o crescimento. Nesse vácuo, o Banco Central age por meio da expansão monetária, o que desvaloriza a moeda norte-americana e dá maior competitividade à produção local, mas causa distorções cambiais enormes em países como o Brasil.

Na Europa, a crise da dívida se descortinou. Trata-se de uma complexa crise de estoque correspondente a um excessivo endividamento privado que após as políticas adotadas desde 2008, se transformou em crise de dívida soberana. Ao longo do ano, o que as políticas adotadas pelos países europeus obtiveram foi um ganho de tempo, enquanto aumentava a certeza de que as dívidas acumuladas são impagáveis, especialmente em condições de baixo crescimento ou de recessão econômica. A decisão recente de endurecimento dos controles fiscais da zona do euro teve o efeito possivelmente transitório de interromper uma onda de desconfiança que já ameaçava chegar ao núcleo de países europeus, mas não avançou na renegociação dos compromissos dos países mais endividados e na formação de um horizonte de dinamização da economia do bloco. Esses temas continuarão na base dos receios de ruptura financeira e de recessão em 2012.

Para complicar, hoje mais do que em qualquer outro momento do período recente, uma desaceleração do crescimento da China se coloca como provável. Eixo de uma ligação que foi se formando entre as economias desenvolvidas e as demais economias emergentes, a economia chinesa, se de fato reduzir significativamente uma expansão média que vem sendo de 10% ao ano, espalhará a crise internacional para o resto dos países emergentes e aprofundará as disputas internacionais pelos poucos mercados dinâmicos do mundo. Nem seria necessário advertir que é nesta condição de um dos raros mercados de consumo em crescimento e, portanto, alvo de uma intensa concorrência de produtos importados, que aparece o Brasil.

Nosso país terá em 2012 que "achar" uma variante de política econômica com distinções relevantes com relação àquela que, com sucesso, combateu o contágio da crise em 2008 e 2009. Desta vez, o declínio do ciclo de consumo e investimento é endógeno e pode não admitir uma política compensatória tão apoiada, como fora anteriormente, na expansão do crédito público, moderadamente intensiva em estímulos fiscais e que praticamente não contou com estímulos monetários. Através de mecanismos de defesa comercial e de sustentação da taxa de câmbio terá, por outro lado, a difícil tarefa de reduzir a velocidade com que as importações vêm penetrando no mercado brasileiro, o que na prática está reduzindo o multiplicador em nossa economia para níveis, talvez, inferiores a 1.

Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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