Empresas de capital aberto perdem R$213,6 bilhões em valor de mercado este ano
Vinicius Neder
O tombo nos mercados financeiros, provocado pela crise europeia, engoliu R$213,6 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) este ano. O montante representa as perdas, em valor de mercado, das 323 empresas de capital aberto (medida de quanto uma companhia vale na Bolsa, pela multiplicação das cotações pelo total de ações), segundo estudo da consultoria Economatica divulgado ontem. As perdas consideram as cotações de terça-feira e superam por pouco o valor da Vale, de R$206 bilhões. No total, as empresas analisadas encerram o ano valendo R$2,212 trilhões.
A perda do valor das empresas segue o tombo nas cotações. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, acumula queda de 18,43% no ano, após a forte baixa de 2,54% de ontem - não contabilizada no estudo da Economatica. O cenário mudará pouco para 2011 como um todo: hoje, a Bolsa terá o último dia de negociações do ano.
Petrobras perdeu mais: R$79 bilhões
Entre os setores que mais perderam valor este ano, destacam-se aqueles cujas ações são mais negociadas. Em primeiro lugar, o de petróleo e gás, com o enorme peso da Petrobras, que perdeu sozinha R$78,974 bilhões. O desempenho das ações da estatal, porém, segue a média do mercado. Os papéis preferenciais (PN, sem voto) da empresa acumulam queda de 18,55% no ano, próximo do Ibovespa.
- A Petrobras perde mais valor porque é a maior empresa da Bolsa - lembra o gestor de renda variável da Yield Capital, Hersz Ferman.
A estatal encerrou o pregão de terça-feira valendo R$301 bilhões, o maior valor da Bovespa.
Também por causa de seu peso na Bolsa, a Vale registrou a segunda maior queda em valor de mercado este ano: R$68,882 bilhões. Com isso, o setor de mineração também foi o segundo em perdas no estudo da Economatica. Em terceiro, ficaram os bancos. O Santander, por exemplo, viu seu valor cair R$26,439 bilhões.
Na outra ponta, setores de alimentos e bebidas, energia elétrica e telecomunicações tiveram um ano positivo, com ganhos de valor. O destaque ficou com a fabricante de bebidas Ambev, que, sozinha, viu seu valor em Bolsa saltar R$41,459 bilhões.
O estrategista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, explica que a perda de valor em alguns setores e a queda em outros é uma reação ao cenário econômico. Com as incertezas sobre o crescimento da economia mundial, as cotações das matérias-primas recuam, ameaçando o lucro das empresas exportadoras e produtoras de insumos - como os setores de petróleo e gás, mineração e siderurgia, de grande peso na Bovespa. Com essas ações em xeque, os investidores buscam alternativas.
- Investidores migram para papéis mais defensivos em épocas de crise - afirma Galdi.
São defensivas as ações de empresas com receita mais previsível, voltadas para o mercado interno e que pagam bons dividendos, como é chamada a distribuição dos lucros entre acionistas. Neste caso, energia e telecomunicações. Para Galdi, a Ambev se destaca na Bolsa porque o consumo interno está em alta.
Segundo a maioria dos analistas, a crise das dívidas soberanas na Europa destacou-se entre os fatores negativos para a Bolsa em 2011. No entanto, Fábio Nazari, chefe da área de mercado de capitais do banco de investimentos BTG Pactual, destaca que a crise externa apenas piorou o quadro. Para ele, no primeiro semestre, o movimento do mercado estava 70% atrelado a fatores locais, e, na segunda metade do ano, passou a 80% ligado ao cenário externo. No início do ano, a inflação em alta e a ação do governo para contê-la, com medidas para restringir o crédito - combinada à alta da taxa de juros (Selic) pelo Banco Central - deixaram os investidores desconfiados.
- A expectativa com a inflação levou às medidas macroprudenciais do BC, resultando na saída de recursos de estrangeiros - diz Nazari.
A soma dos fatores domésticos do primeiro semestre com a piora do quadro na Europa causou uma "tempestade perfeita", diz Nazari. Para piorar, na virada de julho para agosto, a disputa política em torno da elevação do teto da dívida pública dos Estados Unidos jogaria mais lenha na fogueira, levando ao rebaixamento do rating dos EUA pela agência Standard & Poor"s, em 5 de agosto. A partir de então, as atenções se voltaram para a Europa.
Com as perdas na Bolsa, o investimento em ações caminha para ficar entre as piores aplicações em 2011. As quedas das ações de Petrobras e Vale também afetarão os fundos FGTS-Petrobras e FGTS-Vale.
- No mundo inteiro foi um ano ruim para quem aplica em ações - destaca o administrador de investimentos Fabio Colombo.
Nem o bom desempenho dos setores defensivos ajuda. Na opinião de Colombo, para minimizar os riscos, o investidor deve montar uma carteira de ações com dez a 15 ativos, de diversos setores:
- Muitos papéis que sobem num ano foram mal em anos anteriores. O investidor não deve pôr todas suas fichas numa empresa ou setor.
FONTE: O GLOBO
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