Caciques admitem que os cogitados para disputar a prefeitura da cidade onde surgiu a legenda são pouco competitivos
Paulo de Tarso Lyra
O PSD de Gilberto Kassab não tem um candidato minimamente competitivo em sua cidade natal — São Paulo — e não consegue vislumbrar qualquer possibilidade de parceria que permita sonhar em disputar a prefeitura nas eleições municipais de 2012. A legenda está cada vez mais convencida de que José Serra (PSDB) dificilmente vai se aventurar no pleito e o nome do partido colocado até o momento — o do vice-governador Guilherme Afif Domingos — amarga índices de votos que não passam de 3% nos últimos levantamentos feitos por institutos de pesquisa. Para piorar, o também cogitado ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles resiste até o momento a se lançar em uma aventura sem um mínimo de condição de êxito.
Caciques da legenda admitem que a vida do PSD em São Paulo nunca foi fácil. O partido conseguiu a migração de poucos prefeitos do DEM e enfrentou uma barreira imposta pelo governador do estado, o tucano Geraldo Alckmin. Eles tentam minimizar o cenário sombrio, lembrando que, em um território dominado por PSDB, PT e com o PMDB querendo recuperar prestígio, as chances de Kassab eleger um sucessor sempre foram praticamente irrisórias. Mas queimar os prognósticos de disputa antes da largada eleitoral jamais passou pela cabeça dos pessedistas.
Alguns líderes da legenda ainda sonham com uma aproximação com o PSDB. Isso ficaria mais fácil se o ex-governador José Serra topasse se candidatar ao cargo de prefeito. Se isso acontecesse, concordariam em indicar o vice na chapa. Mas, com índices de rejeição estratosféricos, que superam os 40%, e ciente de que, caso seja eleito, ficará amarrado no cargo de prefeito e sepultará de vez os planos de concorrer à presidência em 2014, Serra adia ao máximo sua decisão. Para esticar ainda mais a corda, Alckmin deixou para março as prévias internas no partido. Resolveu de uma só vez dois problemas: emparedou José Serra e engessou as articulações do PSD.
Integrantes do partido ouvidos pelo Correio admitem que, sem Serra no páreo, as prévias serão inevitáveis. E, se elas acontecerem em meados de março de 2012, como planejado, ficará tarde demais para o PSDB abrir mão da cabeça de chapa. O PSD demonstra incômodo em se subordinar ao PSDB sem que Serra esteja no comando da chapa. Mas não pode fazer muito mais além de espernear. "O principal nome deles na disputa interna, Bruno Covas, tem índices de intenção de voto muito melhores que os de Afif. Não dá para pedirmos que eles abram mão para nós", reconheceu um analista da máquina partidária.
Outro fator crucial emperra as possíveis conversas. Dificilmente o PSD saberá em março se terá direito ao tempo de televisão e ao fundo partidário. O assunto está em debate no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e argumentos favoráveis ao partido já foram manifestados por assessores do tribunal, mas não há como cravar um resultado. Sem ter o que oferecer de concreto, não existem razões para que qualquer partido se coligue com o PSD, já que não existe filantropia no meio político. "Alguns de nossos parlamentares defendem que sinalizemos ao PSDB com uma aliança agora para apoiar Alckmin na reeleição de 2014. Mas o que temos para dar em troca nesse momento? Nada", sacramentou ao Correio um dos fundadores do PSD.
Sacrifício
Afif já avisou a seus correligionários que não estaria disposto a enfrentar uma campanha eleitoral sem qualquer tipo de aliado ou com tempo de televisão irrisório. É muito sacrifício para alguém que tem um nome reconhecido no meio empresarial, que disputou a Presidência da República em 1989 e quase se elegeu senador em 2006, ameaçando a vitória do petista Eduardo Suplicy.
Resta uma opção: Henrique Meirelles. Considerado a mais surpreendente aquisição partidária no apagar das luzes da troca de legendas, Meirelles já se enturmou no PSD e tornou-se o principal interlocutor econômico do novo partido. A pressa com que Kassab negociou a filiação de Meirelles, tirando-o do PMDB na surdina, embute a possibilidade de que ele se torne candidato a prefeito, caso queira. A grande questão, no momento, é que Meirelles não emite qualquer sinal real de que aceitará o desafio.
O injustiçado
Especialistas em Henrique Meirelles lembram que o ex-presidente do Banco Central (BC) sempre se considerou um injustiçado, alguém que está constantemente ocupando cargos abaixo do que seria realmente capaz. Quando deixou o BC, já sem qualquer possibilidade de se candidatar a presidente, ele queria ser vice de Dilma Rousseff, mas perdeu para Michel Temer. Também cogitou ser ministro da Casa Civil e preterido por Antonio Palocci. Queria ser superministro de infraestrutura, mas viu os planos serem enterrados por Dilma, que decidiu nomeá-lo para a Autoridade Pública Olímpica (APO). Como tinha menos poderes que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, Meirelles desistiu da brincadeira, assumiu um cargo fantasia na autarquia e partiu para elaborar a plataforma econômica do PSD.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
Nenhum comentário:
Postar um comentário