Dilma Rousseff termina seu primeiro ano de mandato repetindo, em seus discursos, uma expressão que incomoda, e muito, o mundo petista: "meu governo".
Por mais de uma vez, testemunhei gente do PT, do primeiro escalão à militância, torcendo o nariz quando ela soltava, durante solenidades, o tal pronome possessivo.
Numa das ocasiões, bem me lembro do comentário de um petista ao lado: "Como assim, meu governo? É nosso governo, nós é que a elegemos, a Dilma deveria reconhecer isso".
A reclamação reflete, na verdade, certo desapontamento dos petistas em relação ao estilo de governar da presidente. Eles imaginavam que teriam mais poder no governo dilmista do que tiveram no de Lula.
Recordo uma conversa com um cardeal petista, meio que comemorando o que considerava uma etapa próspera para o partido: "O Lula é muito maior do que o PT, não precisava da gente. A Dilma é uma neófita na política, vai precisar, e muito, do nosso apoio e será mais dependente do partido".
Pois bem, Dilma, em vários momentos de seu primeiro ano de mandato, deu demonstrações de que tinha planejado outro roteiro para seu governo. Assim o fez quando decidiu trocar a cúpula palaciana depois da queda de Antonio Palocci. O PT não só não foi ouvido como foi surpreendido pelas escolhas de Dilma. Episódios semelhantes ocorreram ao longo de todo o ano.
O que acabou acontecendo, pelo menos até aqui, é que o PT teve de se acostumar ao estilo Dilma, frustrando os planos de seus líderes e de outros aliados, como o PMDB -que também imaginava mandar bem mais no governo atual.
O fato é que Dilma deve sua eleição, basicamente, a seu mentor, Lula. Não se sente compromissada com boa parte do mundo político. O risco é surgir, pela frente, uma baita crise -política ou econômica- que a atinja diretamente. Aí, terá que, diríamos, compartilhar mais.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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