Alta de preços e economia mais fraca limitam aumento real médio das categorias
Marcelo Rehder
A alta da inflação, o agravamento da crise europeia e a desaceleração da economia brasileira barraram a expansão dos ganhos salariais acima da inflação. Levantamento preliminar do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), feito a pedido do "Estado", indica que o aumento real médio das categorias com data-base no 2.º semestre tende a ficar em torno de 1,36%.
É o mesmo resultado conquistado nas campanhas salariais da primeira metade do ano, mesmo sendo o 2.º semestre o que concentra as datas-base das categorias mais organizadas do País.
O Dieese calculou o aumento real médio negociado em cerca de 40 acordos e convenções coletivas de trabalho feitas de setembro a novembro em todo o País. O levantamento incluiu as negociações comandadas por sindicatos fortes como os de metalúrgicos, bancários, químicos e petroleiros entre outros.
"Os ganhos das categorias organizadas são mais generosos, porém, boa parte dos demais puxa a média para baixo", diz José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese.
Sem surpresa. Para Fábio Romão, da LCA Consultores, não será surpresa se o aumento médio real dos salários fechar o 2.º abaixo da média do 1.º semestre. De maio a junho, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento real da renda do trabalho foi de 4% ao mês em relação a iguais períodos de 2010. Em agosto, o ganho recuou para 3,2% e zerou em setembro. O último dado disponível, de outubro, mostrou queda de 0,3%.
A questão é que o aumento da inflação reduz o poder de barganha dos sindicatos. Em janeiro, a inflação acumulada em 12 meses, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como parâmetro nas negociações entre patrões e empregados, estava em 6,53%. Em agosto, bateu em 7,40%. "Quanto mais alta a inflação, mais difícil é a obtenção de aumento real de salário", diz Fábio Romão, da LCA Consultores.
Além disso, até pouco tempo atrás, o Banco Central vinha examinando com lupa os acordos coletivos feitos no País, por causa do risco inflacionário que eles poderiam embutir. A preocupação com a inflação criou outro obstáculo aos aumentos reais.
A atividade econômica teve forte desaceleração no 2.° semestre, refletindo os efeitos das medidas que o governo passou a adotar desde dezembro de 2010, para esfriar a demanda e reduzir as pressões inflacionárias. O remédio ficou ainda mais amargo depois do agravamento da crise europeia. Tanto que, agora, o governo passou a adotar novas medidas para estimular o consumo.
No início de 2011, a expectativa era de um crescimento de 4,5% a 5% para o Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, já se fala em crescimento abaixo de 3%. "O patronato joga com isso também", frisa Silvestre.
Entre as categorias que estão sentindo isso na mesa de negociação, estão os aeronautas e aeroviários. Com a alegação de que o setor aéreo está em crise, as empresas do setor oferecem correção de apenas 3% para os salários, o que nem sequer cobre a inflação. Visando um avanço nas negociações, os sindicatos das duas categorias reduziram reajuste reivindicado de 13% para 10%. Mas as empresas não aceitaram mudar sua proposta. Para os sindicalistas, o momento é de preparação da greve no setor.
Acomodação. Para a economista Zeina Latif, a desaceleração no mercado de trabalho, com geração menor de postos de trabalho e moderação nos aumentos reais de salário, deverá se refletir de forma positiva na inflação de serviços, que está ao redor de 9%. "É provável que ocorra uma acomodação lenta dos preços dos serviços, por causa da indexação que ainda existe nesse setor", diz Zeina."Quanto mais lento for o processo, menor a margem de manobra do BC para atingir a meta de inflação de 2012".
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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