Alta de 5,56% projetada para o IPCA em 2012 tem peso dos serviços, que devem subir 7,9%
Márcia de Chiara
A manutenção dos preços dos serviços em níveis elevados deve ser o principal desafio para a queda da inflação em 2012, segundo alguns economistas. O último levantamento do Banco Central (BC) mostra que o mercado projeta inflação, medida pelo Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 5,56% para 2012.
Apesar do recuo das estimativas no último mês, se essa projeção se confirmar, a inflação deve ficar em 2012 acima do centro da meta de 4,5% pelo terceiro ano seguido. "Mesmo com a desaceleração da economia, a batalha da inflação não está ganha", afirma a economista Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para um IPCA projetado em 5,4% para 2012, ela calcula que os serviços devem subir 7,9%, 1 ponto porcentual abaixo do estimado para este ano (8,9%), para uma inflação geral na casa de 6,5% em 2011.
Silvia diz que a inflação de serviços demora mais tempo para cair porque ela é resultado de uma conjunção de fatores, que inclui o reajuste do salário mínimo de 14,3% previsto para o ano que vem e o aumento de participação da classe média na estrutura social do País.
Já a economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander, minimiza o papel do salário mínimo na resistência inflacionária. Ela pondera que o salário mínimo tem grande influência nos preços dos serviços, mas ressalta que há uma forte inércia vinda da indexação, que afeta aluguéis e preços de mensalidades escolares, por exemplo.
"Vamos ter uma resistência da inflação pelo lado da demanda doméstica, porque o mercado de trabalho, mesmo em setores não vinculados ao mínimo, vai continuar bastante positivo", afirma Tatiana.
Ela considera o crescimento de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para 2012 "nada expressivo" - mesmo assim, o resultado não vai causar uma redução no emprego. "Isso deve causar estranheza para a corrente que acredita que a crise internacional fará milagre com a inflação brasileira."
Efeitos. Segundo Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, a desaceleração da economia não será capaz de derrubar a inflação, porque o movimento não é generalizado entre os vários setores. "O enfraquecimento da atividade econômica é muito forte, mas não é generalizado", afirma.
Tatiana, do Santander, observa que a desaceleração está concentrada hoje nos setores mais vinculados ao crédito, como a indústria automobilística e a de eletrodomésticos. Por isso, o esfriamento da atividade será insuficiente para derrubar a inflação.
Mesmo os alimentos, cujos preços tiveram forte queda na crise de 2008 e em 2009, ajudando o País a fechar o ano com IPCA abaixo do centro da meta, não devem ajudar em 2012. É consenso de que o grupo "alimentação e bebidas" tenha alta de 5% em 2012, abaixo dos 6,3% projetados para 2011, mas acima dos 3,2% registrados em 2009.
O economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, pondera que há indicações de que a safra de grãos 2011/2012, que começa a ser colhida no segundo trimestre, será boa, contribuindo para que o preço dos alimentos caia. "Mas a inflação vai incomodar no segundo semestre do ano que vem", prevê. Ele diz que as pressões inflacionárias voltarão a partir de julho, porque os efeitos das recentes medidas de afrouxamento do crédito e cortes de juros vão aparecer no ritmo de atividade e nos preços.
Contramão. O grupo de preços administrados, como tarifas, será um dos poucos que vai jogar contra as pressões inflacionárias. Como 2012 será ano de eleições municipais, é improvável que as tarifas de transportes tenham forte reajuste. Neste ano, as tarifas de transporte público devem acumular alta de 11%.
Também a tarifa de energia elétrica deverá ter redução no ano que vem por causa da revisão tarifária. Para 2012, a expectativa é de que os preços administrados subam 4,9%, nas estimativas da FGV, contra 6,3% deste ano.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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