Ele defende aposentadoria aos 60 anos e congelamento de aluguéis
Deborah Berlinck
PARIS - Muitos franceses duvidavam — e alguns ainda duvidam — que ele pudesse decolar. Mas com a crise europeia e a perda de status da França no mundo das finanças, o maior opositor do governo Sarkozy, o socialista François Hollande, deu mais um passo para tornar-se o homem que poderá trazer de volta o socialismo à França, 20 anos depois de François Mitterrand. Ao revelar no último domingo seus planos para o país, Hollande assumiu um discurso de esquerda. Seu verdadeiro adversário, segundo ele mesmo, não é Nicolas Sarkozy:
— Vou dizer para vocês quem é o meu adversário: meu adversário é o mundo das finanças! - disse Hollande, sob aplausos.
Foi um discurso que agradou à plateia de socialistas reunida em Bourget, na periferia de Paris, e que não perdoa as grandes agências de avaliação de risco por terem rebaixado a nota da França, o que significa que o país ficou um pouco mais arriscado para investidores. A França afunda lentamente na crise europeia e, com ela, diminuem as esperanças de Sarkozy e da direita francesa de se manterem no poder.
A última sondagem previu que Hollande poderá ganhar com 57% dos votos num segundo turno contra o presidente Nicolas Sarkozy. Mas esta eleição tem algo perturbador: a crescente presença de Marine Le Pen, estrela da Frente Nacional, partido da extrema-direita. Com imagem mais suave que seu pai, o histórico extremista Jean-Marie Le Pen, esta loira de posições firmes está abocanhando cada vez mais votos do UMP, o partido de direita de Sarkozy, levando a direita francesa a assumir um discurso cada vez mais duro.
Hollande posiciona-se à esquerda nas correntes do partido socialista. O candidato, que era acusado de não ser claro nas propostas, entrou nos detalhes: reindustrialização da França, com a criação de um banco de investimento para a indústria, um novo pacto europeu para enfrentar a crise, equilíbrio das contas públicas e mais imposto para os ricos. E menos complacência com os bancos.
— Durante três anos, o Estado ajudou os bancos. E hoje eles especulam com o nosso dinheiro. Como admitir isso? — perguntou ele numa entrevista à TF1.
Outra promessa de campanha, que numa França endividada levanta a pergunta sobre de onde virá o dinheiro: aposentadoria aos 60 anos (quando muitos na Europa estão aposentando mais tarde) para os franceses que contribuíram 41 anos. Hollande também quer congelar os aluguéis em certas regiões e dar direito ao voto para os estrangeiros vivendo na França, nas eleições locais.
FONTE: O GLOBO
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