quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O vexame do PT como PMDB:: Vinícius Torres Freire

Petistas fazem bico e coisa pior devido à nomeação de "técnicos" para a Petrobras e para a Ciência e Tecnologia

O PT está em polvorosa por causa da troca de comando na Petrobras; por causa dos rumores de que haverá uma limpa na diretoria. O partido "perderia" não apenas a presidência, mas também diretorias "que furam poço", na frase histórica de Severino Cavalcanti, o breve e infame presidente da Câmara (2005).

O PT já havia levantado uma poeirinha faz algumas semanas, quando Marco Antonio Raupp foi indicado para ministro de Ciência e Tecnologia no lugar de Aloizio Mercadante, agora ministro da Educação.

Raupp, físico e matemático reputado, é chamado por políticos e jornalistas políticos de ministro "técnico", o que em geral e a princípio na verdade isenta o cidadão da suspeição imediata de picaretagem.

Mas observe-se que o rótulo é no mínimo tolo. Entre outros postos, Raupp era até agora presidente da Agência Espacial Brasileira e foi diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (o Inpe).

Nenhum cientista abilolado e ingênuo dirige instituições de pesquisa. A política em universidades e assemelhados é tão feroz quanto em quase qualquer outro lugar. Isso, ressalte-se, em si mesmo não é demérito algum para Raupp ou outros cientistas-executivos. É apenas uma observação sobre a tolice preconceituosa do termo "técnico".

Isto posto, qual o problema do PT? Não gosta de "técnicos"? Tanto faz. O problema é a perda de eventuais boquinhas e, mesmo que o cargo tal ou qual jamais estivesse ao alcance do partido, o importante é choramingar pelo menos a fim de mostrar "insatisfação" e de se fazer de credor da presidente.

É o que o partido está fazendo com a nomeação da até agora excelente Graça Foster para a Petrobras, executiva capaz, dedicada ao trabalho, com longa carreira no setor, do qual é especialista de fato "técnica", que exerceu longamente na empresa que agora vai presidir.

De passagem, lembre-se que foram Graça Foster e equipe os responsáveis pelos programas que deram cabo da agora esquecida e feia crise da falta de gás (2007-2008).

O que o PT faz com Graça Foster e Raupp é mais ou menos a mesma chantagem que o PMDB fez quando começou a perder bocas no setor elétrico, por exemplo, no início do governo Dilma (aliás, o PMDB também era aspirante à cadeira da Ciência e Tecnologia). O PT apenas não faz ameaças mais baixas e explícitas porque, em tese, é o partido no poder. Mas faz o mesmo o papel baixo dessa gentalha que nomeia parentelas ou faz coisa ainda pior em Dnocs, Dnits e Funasas.

Mas mesmo um partido no poder, ao qual formalmente pertence a presidente da República, poderia fazer críticas ou observações sobre os novos ministros e, ainda melhor, aos seus programas e metas.

Uma comissão de pessoas honestas, prestantes e inteligentes do partido, do PT, poderia fazer um comunicado formal ao público, dizendo de suas expectativas a respeito da gestão e do plano do ministro a ser nomeado. Aliás, isso era ainda mais esperado da oposição, pelo menos do PSDB, que se afunda ainda mais em debates provincianos e de um personalismo cada vez mais vulgar, sem alma viva sequer capaz de tratar dos problemas do país e, enfim, fazer oposição.

Essa queixa é quase um ingenuidade idiótica? Ok. Qual a alternativa? Desistir?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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