Quem quer mesmo as prévias?
PT e PSDB, que polarizaram as últimas disputas pelo Planalto, devem realizar primárias para escolha de candidato a prefeito só em três capitais. Processo ainda é raro no Brasil
Marcelo da Fonseca
Nas convenções partidárias elas são unanimidade. Em alguns estatutos são consideradas obrigatórias. Nos discursos dos líderes aparecem como reforço à democracia interna das legendas. Entre militantes são consideradas fundamentais no fortalecimento dos ideais. Mas a despeito das normas jurídicas e dos discursos, a realização de prévias nos partidos para escolha dos candidatos que vão concorrer às eleições ainda são raridade no Brasil, um quadro político que tende a se repetir nas eleições municipais deste ano. Apenas em três capitais as legendas que polarizaram as últimas eleições presidenciais – PT e PSDB – já apresentaram datas para que os filiados decidam o nome que vai concorrer no pleito de outubro. Na maior delas, São Paulo, a disputa será entre os tucanos, enquanto nas outras duas se dará entre petistas.
A primeira prévia está marcada para domingo, dia 22, e vai acontecer em Belém, no Pará. Na disputa estão os parlamentares petistas Carlos Bordalo, deputado estadual, Alfredo Costa, vereador, e Cláudio Puty, deputado federal. Os pretendentes já participaram de três debates, e segundo o diretório municipal, cerca de 11 mil dos 15 mil filiados se registraram até a semana passada para participar das votações. Os petistas também vão escolher por meio das prévias seu candidato à Prefeitura de Porto Velho, em Rondônia. Na disputa, programada para 25 de março, estão a ex-senadora Fátima Cleide e o secretário municipal de Transportes e Trânsito, Cláudio Carvalho.
Papéis trocados Em São Paulo são os tucanos que vão deixar para os filiados a escolha do nome que concorrerá à prefeitura. Há quatro candidatos para as prévias paulistanas, confirmadas na semana passada para 4 de março: os secretários estaduais Andrea Matarazzo (Cultura), Bruno Covas (Meio Ambiente) e José Aníbal (Energia) e o deputado federal Ricardo Trípoli. Os petistas, por sua vez, dispensaram as prévias e já têm o seu pré-candidato, o ministro da Educação, Fernando Haddad. A pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente da República, Dilma Rousseff, a senadora Marta Suplicy desistiu, em novembro, de brigar pela vaga de candidata. Eduardo Suplicy fez o mesmo, deixando livre o caminho para o ministro.
O quadro na capital paulista representa uma inversão dos papéis tradicionalmente desempenhados por PT e PSDB, aponta o cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Ranulfo. "Essa situação é uma novidade, já que o PT é o partido com maior tradição na realização das prévias", lembra Ranulfo, para quem a escolha de candidatos por meio do voto dos filiados é saudável. "Apesar de possíveis rixas internas por causa de visões diferentes em questões partidárias e de não serem obrigatórias em todas as legendas, as prévias representam uma abertura maior do processo político", analisa.
O cientista político lamenta que a maior parte dos partidos no Brasil ainda não tenha adotado as eleições internas como prática regular, uma vez que sua realização tende a garantir um envolvimento maior dos filiados com a escolha não só do candidato mas também do projeto eleitoral. "A prévia é um instrumento muito válido para a democratização interna do partido. Ela pode representar um momento de mobilização, com clima de campanha e discussões importantes sobre o que vai ser apresentado ao eleitor", defende.
Indefinição em BH Em Belo Horizonte, PT e PSDB se encontram em situações diferentes em relação às eleições de outubro. Porém, nem um nem outro deverá ter prévias. Enquanto os tucanos já declararam apoio à reeleição de Marcio Lacerda (PSB) e não devem indicar um nome para o pleito, o PT se divide internamente entre a manutenção da parceria com o prefeito e o lançamento de candidatura própria. Nesse último caso, a realização de prévias para definir o representante da legenda não está descartada. Os dois grupos petistas se movimentam nas próximas semanas para definir qual será a estratégia do partido na capital mineira.
Na grande maioria dos diretórios municipais continuam as negociações para definir apoio para os partidos aliados ou pela busca de nomes consensuais para concorrer nas eleições de outubro. O prazo para a escolha dos candidatos acaba na primeira semana de julho, quanto termina o período de convenções partidárias, e as legendas devem apresentar o requerimento para registrar as candidaturas.
Memória
Tabu quebrado em 2002
Em agosto do ano passado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) enviou carta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na qual cobrou prévias para a escolher o candidato do partido à Prefeitura de São Paulo. Naquela época, ainda era pré-candidato. A correspondência não surpreendeu quem se lembra de 2002, quando Suplicy levou o PT a quebrar um tabu e realizar as primeiras prévias presidenciais. Suplicy enfrentou Lula, que tentava ser o candidato do partido ao Planalto pela quarta vez. "Defendo a prévia no PT e também a ideia de realizar primárias para escolher o candidato entre os partidos que estarão aliados conosco na eleição de 2002. Aliás, essa ideia não nasceu comigo. José Dirceu (então presidente da legenda) e o próprio Lula já haviam falado nisso em 1998", resumiu Suplicy em 2000. Naquela época, o senador ainda estava casado com Marta Suplicy, que havia acabado de ser eleita prefeita de São Paulo e sonhava ser candidata ao Planalto em 2006.
Nem o todo-poderoso José Dirceu nem o próprio Lula demoveram Suplicy, que amargou derrota acachapante nas prévias partidárias em março de 2002 (foto). Lula acabou vencendo a eleição presidencial. Reeleito em 2006, no ano passado conseguiu fazer Eduardo Suplicy e a ex-mulher Marta desistirem de concorrer à prefeitura paulistana em 2012 e apoiar Fernando Haddad, que deve deixar o Ministério da Educação em março.
FONTE: ESTADO DE MINAS
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