O cenário era a inauguração de uma creche em Angra dos Reis (RJ), mas poderia ser qualquer outro, já que o essencial estava presente: a mão forte e o braço firme do governo federal.
Fernando Haddad será candidato a prefeito de São Paulo, mas a campanha foi aberta pela presidente Dilma Rousseff, longe da arena da disputa. Não são apenas detalhes nem mera coincidência.
É um plano bem traçado. Com o objetivo tático de dar à eleição na capital paulista um caráter nacional em que a principal bandeira a ser apresentada pelo candidato seja a sua parceria com o Planalto e a finalidade estratégica de consolidar a hegemonia política do PT do Brasil.
Se porventura se juntarem PT e PSD - no primeiro ou mesmo no segundo turno, a união das máquinas municipal e federal vai se encarregar de neutralizar bastante o peso da estrutura estadual nas mãos do PSDB.
Quanto aos aliados, a inauguração da creche em Angra dos Reis forneceu um exemplo do engajamento de todos em prol da execução de um projeto prolongado de poder.
Estava lá o governador do Estado, Sérgio Cabral, fazendo eco ao entusiasmo da presidente Dilma na apresentação de Haddad.
Não como o ministro dos erros do Enem, mas como "um dos grandes ministros da Educação deste País, o melhor do período democrático", só comparável, nas palavras de Cabral, a "educadores como Anísio Teixeira e Gustavo Capanema".
Um exagero histórico, mas não um acaso retórico.
Ao PMDB interessa, e muito, não se desviar do caminho traçado pelo PT para não perder a vaga de vice na chapa de 2014.
Todos os movimentos até agora foram feitos na perspectiva de nacionalizar a eleição municipal paulistana.
A partir da premissa de que não há nomes tidos como imbatíveis, as lideranças mais antigas estão em processo de desgaste, todos são mais ou menos iguais na largada, Haddad acaba contando com condições competitivas mais vantajosas.
É o representante de um governo politicamente forte, que a maioria das forças não tem o menor interesse em contrariar.
Lula entra na campanha assim que terminar o tratamento do câncer na laringe e Dilma, com toda resistência pessoal a esse tipo de atuação, anteontem no Rio mostrou que, quando o assunto é eleição de São Paulo, sobe no palanque como profissional.
Pronta entrega. A segunda e amenizada versão do documento de balanço do primeiro ano de governo Dilma feita pelo PSDB foi escrita pelo cientista político Antônio Lavareda, a pedido do presidente do partido, Sérgio Guerra.
A primeira versão, muito mais contundente, havia sido encomendada por Guerra a Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB.
Lavareda, consultor de marketing político do partido, teve toda liberdade para elaborar o texto final - que não foi lido por Sérgio Guerra nem passou pelo crivo da Executiva, embora tenha sido divulgado em nome do colegiado.
O conselheiro. Com o fim das férias do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, no próximo dia 26, a presidente Dilma Rousseff retoma o assunto da composição da Comissão da Verdade, que cuidará por dois anos de reunir informações (conhecidas e ainda desconhecidas) sobre as violações aos direitos humanos cometidas durante o regime militar.
Entre os interlocutores da presidente para o tema, Gilberto Carvalho é o principal.
Nisso estão engajados petistas e aliados interessados em manter boas relações com vista à eleição presidencial de 2014.
Os petistas seguem no geral o roteiro imposto pelo ex-presidente Lula, que já em novembro do ano passado, data do enterro da proposta de realização de prévias, avisou aos seus navegantes: o exemplo de São Paulo deveria ser seguido e, até na medida do impossível, as disputas internas evitadas País afora.
Aos poucos caem as resistências iniciais a uma aproximação com o prefeito Gilberto Kassab, porque ele é considerado um interlocutor importante na cena nacional futura e uma peça fundamental na disputa local.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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