Entre os norte-americanos com renda anual abaixo dos US$ 25 mil, 28,7% não contam com seguro-saúde
Se você é norte-americano e está enfrentando um período de dificuldades, Mitt Romney tem uma mensagem a lhe transmitir: ele não se incomoda com o seu sofrimento. No começo da semana, Romney declarou à CNN que não estava "preocupado com os muito pobres". E concluiu: "Temos uma rede de segurança para atendê-los".
Alguns dias antes, Romney tinha negado que os programas de assistência aos pobres que ele posteriormente mencionaria como motivo para não se preocupar estivessem ajudando de maneira significativa. Em 22 de janeiro, ele declarou que os programas de rede de segurança têm "imensos custos fixos".
A alegação, como boa parte do que Romney diz, é completamente falsa. Os programas norte-americanos de assistência aos pobres não têm burocracia ou custos fixos excessivos, ao contrário, por exemplo, das companhias privadas de seguros. Como documentou o Centro de Prioridades Orçamentárias e Políticas, de 90% a 99% dos recursos destinados aos programas de rede de segurança chegam realmente aos beneficiários. Mas, mesmo desconsiderada a desonestidade de sua alegação inicial, como pode um candidato primeiro declarar que os programas de rede social não ajudam e depois, dez dias mais tarde, dizer que eles cuidam tão bem dos pobres que não há motivo para preocupação quanto ao bem-estar destes?
Além disso, se considerarmos essa imensa mancada quanto ao funcionamento real dos programas de rede de segurança, como poderíamos confiar na declaração de Romney de que consertaria o sistema caso ele precisasse de reparos, depois que ele afirmou não estar preocupado com os mais pobres?
A verdade quanto a isso é que a rede de segurança precisa de reparos. Ela oferece grande ajuda aos pobres, mas ainda assim não o suficiente. O programa federal de saúde Medicaid, por exemplo, oferece tratamentos essenciais a milhões de cidadãos desafortunados, especialmente crianças, mas muita gente passa sem assistência. Entre os norte-americanos com renda anual abaixo dos US$ 25 mil, 28,7% não contam com qualquer forma de seguro-saúde. E não, eles não podem compensar essa falta de cobertura recorrendo ao pronto-socorro.
Da mesma maneira, os programas de assistência alimentar ajudam muito, mas um em cada seis dos norte-americanos que vivem abaixo do limiar da pobreza sofre de "baixa segurança alimentar". A definição para isso é a de que "o consumo de alimentos é reduzido em determinados períodos do ano porque os domicílios não dispõem de dinheiro ou outros recursos para comprar comida". Em outras palavras, essas pessoas passam fome.
Por isso, precisamos reforçar nossa rede de segurança. Mas Romney deseja, na realidade, enfraquecê-la.
Especificamente, o candidato apoia o plano do deputado Paul Ryan para cortes drásticos nos gastos federais, e dois terços desses cortes aconteceriam em detrimento dos norte-americanos de baixa renda. E, se Romney diferenciou sua atitude da adotada por Ryan, foi no sentido de cortes ainda mais severos na assistência aos pobres: sua proposta para o Medicaid parece envolver redução de 40% nas verbas.
Tradução de Paulo Migliacci
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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