Pressionado por Dilma, ministro quebra silêncio e admite que cedeu a pressões do PTB na estatal
Uma semana após a demissão de Luiz Felipe Denucci da Casa da Moeda, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, rompeu o silêncio por determinação da presidente Dilma. Negou ter indicado Denucci para o cargo, atribuindo-a ao PTB. Mesmo admitindo que as denúncias contra o executivo não "eram sólidas", afirmou que Denucci vinha sofrendo "pressão muito forte" do partido, presidido por Roberto Jefferson.
Mantega: pressão ‘muito forte’ por demissão
Por ordem de Dilma, ministro fala e admite que exonerou o presidente da Casa da Moeda porque o PTB pediu
André de Souza, Regina Alvarez
l BRASÍLIA. Por recomendação da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, rompeu o silêncio de uma semana e apresentou ontem suas justificativas para a demissão do economista Luiz Felipe Denucci Martins da presidência da Casa da Moeda, ocorrida sábado passado.
Mantega negou ter indicado Denucci para o cargo, afirmando que a indicação foi do PTB.
E, mesmo admitindo que as acusações contra o executivo "não eram sólidas", disse que foi grande a pressão do partido para retirá-lo do cargo.
Segundo Mantega, a substituição já estava em andamento e não foi consumada antes porque estava esperando ser fechado o orçamento da Casa da Moeda com os resultados de 2011.
— Ele (Denucci) estava sendo pressionado, uma pressão muito forte, então já estávamos (dando) andamento à sua substituição. Tanto que eu já havia entrevistado três possíveis candidatos que poderiam ocupar o cargo. Eu estava esperando terminar o ano, fechar o orçamento, para fazer a substituição — disse Mantega.
— Ele mesmo já tinha feito carta dizendo que estava sendo incomodado, que estava querendo sair.
Casa da Moeda estava sendo modernizada O ministro negou que tenha usado o PTB para endossar uma indicação pessoal sua, como afirmaram deputados petebistas esta semana, e disse que nunca tinha visto Denucci antes de ele ir para a Casa da Moeda.
— Em 2008, quando substituímos o presidente da Casa da Moeda de então, o PTB fez indicações para a presidência dentro dos critérios que utilizamos, de competência técnica. Os primeiros nomes não foram aprovados. Finalmente, eles me trouxeram o currículo desse ex-presidente da Casa da Moeda (Denucci), adequado para a missão, (para) as funções da Casa da Moeda. Então, aceitei a indicação, que foi feita pelo presidente do PTB em exercício na ocasião. Portanto, não conhecia essa pessoa. Nunca tinha visto antes — disse, sem esclarecer quem era o interlocutor.
Em 2008, o deputado cassado Roberto Jefferson era presidente do partido.
Na entrevista, Mantega alegou que, apesar da pressão do PTB, não poderia substitui-lo no meio de um processo de modernização da Casa da Moeda.
O ministro sustentou que somente depois de a exoneração ser publicada no Diário Oficial, segunda-feira, é que apareceram as denúncias de que Denucci teria recebido propina de fornecedores da Casa da Moeda. De acordo com Mantega, as denúncias anteriores ou foram exaustivamente investigadas ou eram pouco fundamentadas.
— (Eu não poderia), no meio dessa missão, mudando os equipamentos, fazendo a modernização, substituir (o presidente da Casa da Moeda) porque ele não estaria atendendo não sei a que demandas do partido. Portanto, eu esperei o momento mais adequado para que isso fosse feito — afirmou o ministro.
O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) foi um dos interlocutores de Mantega na ocasião.
O outro era o líder da bancada na Câmara, Jovair Arnates (PTB-GO). Roberto Jefferson negou durante a semana que o PTB tenha indicado Denucci para a Casa da Moeda.
Ontem, após a entrevista de Mantega, Jovair Arantes reconheceu que o PTB levou o nome de Denucci para o governo, mas não exatamente para a Casa da Moeda.
— O Marquezelli levou esse nome ao governo. Originalmente era uma indicação para outro cargo. Foi então que surgiu a Casa da Moeda. Mas logo depois decidimos tirar o apoio — disse Jovair: — Portanto, o PTB não tem responsabilidade alguma pela permanência do Denucci no governo. Chegamos a enviar três ofícios pedindo a substituição. Nós tiramos o respaldo dele. Mas o Mantega não quis trocar.
As declarações de Mantega, apenas uma semana após efetivada a demissão e depois de várias vezes procurado pelo GLOBO a se manifestar sobre o assuntos, foram feitas na portaria do Ministério da Fazenda, depois de um encontro que ele teve com a presidente Dilma, na manhã de ontem, no Palácio do Planalto.A presidente, que chamou Mantega ao Planalto, recomendou que ele se explicasse, por avaliar que seu silêncio estava ampliando o caso. Mas, apesar do desconforto de mais um problema batendo à porta do Planalto, segundo fontes do governo, a presidente Dilma considera que Mantega agiu certo ao manter Denucci no cargo contra a vontade dos líderes do PTB, embora o ministro tenha dito ontem que demitiu por pressão do partido.
A avaliação feita internamente é que não havia provas consistentes contra o economista para uma demissão imediata, como queria o PTB. As denúncias feitas pelo partido, sem provas, teriam até reforçado o cacife do economista, segundo essa avaliação do Planalto, já que ele estaria resistindo ao assédio de políticos interessados em tirar vantagem do cargo.
Só na quinta-feira, cinco dias após Denucci ser demitido, o Ministério da Fazenda criou comissão de sindicância para apurar as denúncias publicadas na mídia contra Denucci.
Perguntado sobre uma possível ida ao Congresso para prestar esclarecimentos, o ministro respondeu: — Vamos aguardar as decisões do Congresso.
FONTE: O GLOBO
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