Governo cubano nega saída a blogueira
Yoani Sánchez, que já tinha o visto brasileiro, havia pedido a intercessão da presidente Dilma para obter permissão
Em sua conta no Twitter, a opositora ao regime se dirige à dirigente brasileira e diz que é "prisioneira" no país
Isabel Fleck
SÃO PAULO - A tentativa da blogueira Yoani Sánchez de obter permissão do governo cubano para vir ao Brasil fracassou. Pela quinta vez. Ontem, ela divulgou em sua conta no Twitter que o regime negou novamente sua saída -já é a 19ª proibição, se contados todos os pedidos para viajar a convite para outros países.
"Me sinto como um refém sequestrado por alguém que não escuta, nem dá explicações. Um governo encapuzado e com arma na cintura", disse Sánchez, que escreve o blog Generación Y, um dos mais expressivos de crítica ao governo castrista.
A blogueira já tinha conseguido o visto brasileiro para participar do lançamento do documentário "Conexão Cuba Honduras" -no qual é entrevistada-, em Jequié, na Bahia, no próximo dia 10.
Ela pediu, por vídeo na internet e carta enviada a Brasília, a intercessão da presidente Dilma Rousseff, durante sua visita a Cuba nesta semana, para conseguir a permissão de saída do governo cubano.
Publicamente, a mandatária brasileira não comentou o caso, e o governo brasileiro sugeriu que ela não trataria do caso com os anfitriões.
Após a aparente resistência da presidente em ajudá-la, Sánchez disparou ontem no Twitter, em mensagem direcionada à conta oficial de Dilma: "De que vale ter um porto tão grande e moderno como o de Mariel se não podemos sair por ele?". O porto de Mariel, com investimento brasileiro, foi um dos principais temas da visita de Dilma.
O governo brasileiro não comentou a decisão cubana.
Sánchez ainda questionou o fato de ter recebido a negativa justo quando o ditador Raúl Castro está fora do país. "Raúl Castro está de visita na Venezuela, e não me deixam visitar o Brasil... Coisas de totalitarismos!"
Estreia ameaçada
O diretor do documentário, Dado Galvão, que fez o convite para a blogueira vir ao Brasil, não sabe se manterá o lançamento do filme na próxima sexta-feira. "Vou avaliar com a Yoani e com o senador Eduardo Suplicy, que nos deu apoio político", disse.
Galvão teve ontem a notícia de que não só a cubana faltaria à estreia, mas o jornalista hondurenho Esdras Amado López também. Figura central do filme, ele recebeu ontem uma intimação judicial que o proíbe de deixar o país.
Para o diretor, o governo brasileiro poderia ter ajudado a blogueira, por ter uma boa relação com o regime cubano. A presidente também o decepcionou por não ter atendido ao pedido de Sánchez.
"Dilma manchou o passado dela. Acredito que ela não poderá mais olhar nos olhos das pessoas para falar de sua trajetória como presa política", afirmou.
Se a estreia for adiada -pela terceira vez-, Galvão considera acrescentar ao documentário os mais recentes desdobramentos da luta de Sánchez por sua liberdade.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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