MP denuncia coronel Curió e ministro diz que anistia impede julgamentos
Diego Abreu
O ministro da Defesa, Celso Amorim, afirmou categoricamente ontem que a lei que criou a Comissão da Verdade "convalida" a Lei de Anistia, de 1979, que perdoou os agentes públicos que torturaram ou mataram durante o governo militar. Ao declarar ser favorável à criação da comissão, o ministro deixou clara a sua posição contrária à possibilidade de condenações contra militares que tenham cometido crimes durante a ditadura (1964-1985). As declarações foram feitas no mesmo dia em que o Ministério Público Federal (MPF) apresentou denúncia à Justiça de Marabá (PA) contra o coronel Sebastião Curió. Ele foi colocado sob a suspeita de ter cometido cinco sequestros na região do Araguaia, na época da ditadura.
"Vamos ver como a Justiça levará (o caso). Não tenho comentário sobre isso, até porque me falecem conhecimentos jurídicos para poder opinar. Politicamente, eu entendo que o Ministério Público é autônomo. Mas entendo que a Comissão da Verdade tem que ser respeitada. É importante que todos entendam que foi uma lei do Congresso Nacional. Não tem nada a ver com revanchismo", afirmou Celso Amorim.
Ele acrescentou que a legislação "convalida e integra no seu bojo" a Lei de Anistia. O ministro da Defesa lembrou, ainda, que o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou válida anistia dada aos militares, em julgamento realizado em abril de 2010. Já o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, se esquivou de comentar sobre a possibilidade de Curió responder por supostos crimes cometidos no passado. "A minha posição quanto especificamente à Lei de Anistia é aquela que foi vencedora no STF de que os fatos estão cobertos pela anistia", disse.
Ele acrescentou que a denúncia do MPF se baseia na tese de que os crimes são permanentes, uma vez que os corpos dos desaparecidos nunca foram encontrados, o que caracterizaria sequestro sem um desfecho. "Quer dizer que o crime ainda estaria em execução e, por isso, não seria alcançado pela Lei de Anistia, que especifica um período de tempo", frisou. Gurgel disse acreditar que o caso chegará ao Supremo, por se tratar de uma questão jurídica nova.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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