Ao manifesto da maioria da bancada de deputados do PMDB (cobrando autonomia da direção do partido diante do Palácio do Planalto e contra a utilização da máquina federal pelo PT em favor de seu objetivo de conquistar hegemonia na esfera municipal, no pleito deste ano), se-guiu-se o veto do Senado à recondução do diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres, ANTT, Bernardo Figueiredo. Veto avaliado como um recado dire-to à presidente Dilma Rousseff, indicativo da contrarieda-de da Casa com a marginalização de suas lideranças do conjunto de decisões do Executivo.
Outro indicador da persistência de problemas seme-lhantes na Câmara foi a divergência tornada pública entre a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e o líder governista Cândido Vacarezza em torno da votação conclusiva do Código Florestal. Com ele defendendo a votação na semana passada ou nesta, e a ministra, em nome da presidente, empenhada em adiá-la – até para depois da Conferência Rio+20, ou seja no segundo se-mestre – com receio de nova derrota do Planalto na deci-são da Casa sobre a matéria.
A forte irritação da presidente com o veto dos senado-res (por 36 a 31 votos) a novo mandato do diretor-geral da ANTT (petista de sua confiança pessoal e encarregado de viabilizar o trem-bala, megaprojeto tratado como uma de suas prioridades) levou-a a duas decisões sobre o re-lacionamento com o Congresso que o ex-presidente Lula certamente não tomaria ou negociaria antes com as dire-ções dos partidos envolvidos: a troca do líder governista no Senado, Romero Jucá, por Eduardo Braga, vinculado a um grupo do PMDB crítico da cúpula do partido, e a do líder na Câmara, Cândido Vacarezza por outro petista Ar-lindo Chinaglia, ambas formalizadas ontem. Simultanea-mente foi divulgada a escolha por ela do deputado, su-plente na representação do Rio. Brizola Neto, para o mi-nistério do Trabalho, com ainda em banho-maria, por causa de forte reação contrária da maioria das bancadas do PDT. E seguem os sinais de que o dilmista Paulo Sér-gio Passos continuará à frente da pasta dos Transportes, sem o aval do PR, que a dirigia antes.
Preocupada com o risco de maior deterioração das re-lações com o PMDB em face de parte dessas medidas, Dilma Rousseff fez-se fotografar ao lado do vice Michel Temer, procurando dividir com ele “nosso governo”. Te-mer, sempre informado dos atos do Executivo a posteriori, aproveitou o papel que pode ter para atenuar o impacto negativo dos últimos no Congresso no sentido da afirma-ção da autonomia do PMDB, face ao PT e ao governo, na definição de candidaturas e na montagem de alianças pa-ra as eleições municipais. Apostando que resultados posi-tivos dessa afirmação venham a constituir o melhor antí-doto contra o plano do núcleo da direção petista de con-trolar uma das casas do Congresso nos anos de 2013 e 2014, decisivos para a próxima sucessão presidencial. Nesse plano o nome do PT para disputar a presidência da Câmara em 2013 é o de Arlindo Chinaglia, o que deve ter pesado na sua nomeação como novo líder governista nesta Casa.
Quanto aos passos para a mais significativa dessas eleições (voltando aos desdobramentos da mudança de cenário político de São Paulo com a entrada de José Ser-ra na disputa), cabe destacar reportagem do Valor, de on-tem, com o título “Haddad diz que Lula, volta à campanha e nega renúncia”. Abertura de matéria: “Sem nenhuma aliança confirmada, sem tempo de televisão do partido no primeiro semestre e com 3% das intenções de voto, o pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, animou-se com o retorno do ex-presidente Lula à sua campanha na próxima semana. O pré-candidato con-versou duas vezes ontem com Lula e aposta na articula-ção do ex-presidente para alavancar sua candidatura e atrair partidos da base aliada ao governo federal, como PSB e PC do B. O petista tem se mostrado à margem das negociações com partidos e irritou-se com rumores de que, em cenário eleitoral desfavorável, desistiria em favor de uma eventual candidatura da senadora e ex-prefeita Marta Suplicy. Para Haddad sua candidatura está sendo vítima de uma ‘central de boatos’ para desestabilizá-la”. Também ontem tais “rumores” apareceram na página de Mônica Bergamo, na ilustrada da Folha de São Paulo. Duas das notas a respeito, que abriram a coluna: “Marta na cabeça - Já passa pela cabeça de empedernidos lulis-tas a ideia de Marta Suplicy (PT) voltar a ser candidata a prefeita de São Paulo. Há conversas discretas no partido sobre essa possibilidade. O tema, no entanto, é tabu dada a resistência do próprio Lula em relação à senadora”. “Boca fechada – ‘Eu penso nisso todos os dias, mas não falo para ninguém’, disse à coluna um dos principais inter-locutores do ex-presidente e um dos poucos que mantêm com ele contato permanente no período de tratamento contra o câncer de laringe”.
Jarbas de Holanda, jornalista
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