Dilma agora ameaça punir os 325 oficiais que já assinaram o "Alerta à Nação", entre eles 44 generais da reserva
Evandro Éboli
BRASÍLIA. Um dia após o governo anunciar punição aos militares que assinaram o manifesto "Alerta à Nação - eles que venham, aqui não passarão", texto que critica a interferência do governo Dilma Rousseff no site do Clube Militar, aumentou ainda mais a adesão de oficiais da reserva ao movimento. Até ontem, 325 militares tinham assinado o documento, sendo 44 generais da reserva. Entre estes, 13 são generais de Exército, de quatro estrelas, maior posto na carreira.
Irritada com a ampliação do movimento de protesto, Dilma determinou que todos os que assinaram, e que podem vir a aderir, sejam punidos por seus respectivos comandos.
A reação dos militares também ganhou apoio de 65 civis. Ao todo, são 390 os signatários. Até terça-feira, apenas cem militares apoiavam o texto.
Dois ex-chefes do Comando Militar do Leste assinam
A reação ganhou apoio de oficiais que deixaram a ativa recentemente e foram para a reserva. São oficiais que integraram o Alto Comando do Exército e que promoveram, quando lá estivam, dezenas de generais que continuam na ativa. Por isso, esses generais da reserva gozam de respeito dos antigos subordinados.
Entre os generais que foram recentemente para a reserva e que assinaram o manifesto estão dois oficiais que até recentemente chefiavam o Comando Militar do Leste: o general Luiz Cesário da Silveira Filho, que foi para a reserva em maio de 2009; e o general Rui Alves Catão, que deixou a ativa em maio de 2010.
Cesário, em seu discurso de despedida do Comando, exaltou o golpe militar de 1964, disse que participou deste movimento sob a incontestável liderança do então general de brigada Emilio Garrastazu Médici, "de patriótica atuação posteriormente na Presidência". Cesário ainda criticou o então ministro da Defesa Nelson Jobim e escreveu um artigo intitulado: "Um Jobim fora do tom". Para completar, Cesário atacou a concessão da patente de coronel a Carlos Lamarca, guerrilheiro da VPR, que foi chamado por ele de "assassino".
Outro signatário do manifesto é o general Maynard Marques de Santa Rosa, que, em fevereiro de 2010, foi exonerado por Nelson Jobim do cargo de chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército, por ter criticado a criação da Comissão da Verdade. Santa Rosa a chamou de "Comissão da Calúnia" e disse que ela seria composta por "fanáticos que adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a banco como meio de combate ao regime para alcançar o poder". Era um texto que circulava na internet.
Antônio Araújo de Medeiros, outro general de Exército da reserva que aderiu ao movimento, foi instrutor do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI). O general Valdésio Guilherme de Figueiredo, outro a aderir, integrou o Superior Tribunal Militar (STM). Gilberto Barbosa de Figueiredo, ex-presidente do Clube Militar, também subscreve o documento. Além dos 44 generais, assinam o manifesto 195 coronéis, 32 tenentes-coronéis, 11 majores, 12 capitães, 14 tenentes, 9 subtenentes, 8 sargentos e um cabo.
A lista com as adesões é atualizada diariamente e está publicada no site "A verdade sufocada", controlado pelo coronel Carlos Brilhante Ustra, que foi comandante do Doi-Codi entre 1970 a 1974.
A reação começou com a decisão do governo em punir por indisciplina os que assinam o manifesto. No texto, os militares da reserva criticaram a interferência do governo no site do Clube Militar e o veto a um texto ali publicado criticando a presidente Dilma Rousseff e duas ministras.
Autores não reconhecem autoridade de Amorim
No "Alerta à Nação", os oficiais dizem não reconhecer "qualquer tipo de autoridade ou legitimidade" de Celso Amorim para determinar a retirada do texto.
"Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazê-lo", diz o documento.
Como no manifesto vetado no site do Clube Militar, o documento também critica a criação da Comissão da Verdade. "A aprovação da Comissão da Verdade foi um ato inconsequente, de revanchismo explícito e de afronta à Lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo". O texto publicado no site atribuía a Maria do Rosário e a Eleonora Menicucci declarações que estariam a serviço do que classificaram de "minoria sectária", disposta a reabrir feridas do passado.
FONTE: O GLOBO
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