O Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira pelo Banco Central, não esclarece as razões por que, subitamente, foi necessário aumentar o corte dos juros para 0,75 ponto porcentual, em vez de continuar com a dose de 0,50 ponto porcentual em vigor desde agosto anterior.Se os juros básicos (Selic) estavam em 10,50% ao ano e a decisão foi chegar até os 9,00% ao ano e nesse patamar estacionar por certo tempo, como foi comunicado, não faria diferença se o Comitê de Política Monetária (Copom), presidido por Alexandre Tombini, mantivesse o ritmo anterior. Ou seja, não faria diferença se, em vez de dois cortes, de 0,75 ponto porcentual, aplicasse três, de 0,50.
A única referência à decisão no texto do Relatório é a seguinte: "Dois membros do Comitê (Copom) ponderaram que seria oportuna a manutenção do ritmo de ajuste da taxa Selic. Entretanto, a maioria argumentou que uma redistribuição temporal do ajuste total das condições monetárias era a estratégia mais apropriada". Ficamos sem saber por que, afinal, essa seria "a estratégia mais apropriada".
Tampouco ficou esclarecida a razão pela qual a Selic encalharia por algum tempo nos 9,0% ao ano, conforme aviso já apresentado na Ata do Copom, se os prognósticos do Banco Central são tão mais favoráveis ao comportamento dos preços, a ponto de projetar para todo este ano inflação de 4,4%, abaixo do centro da meta. Nesse caso, por que não prosseguir no corte dos juros?
A falta dessa explicação parece dar força à hipótese de que o Banco Central não quis criar caso político com mudanças das regras da caderneta de poupança. Se a Selic caísse abaixo de 9,0% ao ano, a caderneta de poupança, que paga 6,17% ao ano mais a TR (isentos do Imposto de Renda), ficaria bem mais competitiva do que os Títulos do Tesouro Nacional. Assim, seria necessário reduzir a remuneração da aplicação mais popular em pleno ano eleitoral para que ela não esvaziasse os investimentos em fundos de renda fixa e no atual estoque de títulos do Tesouro Nacional.
Também faltou explicação para a reafirmação das projeções do PIB de 2012, de 3,5%, pelo Banco Central. Essas projeções foram feitas ao final de 2011. De lá para cá, a novidade foi a percepção de forte desaceleração do crescimento.
Ora, se a atividade econômica ficou depois visivelmente mais baixa do que a percebida no momento em que foram feitas as projeções do PIB, não faz sentido manter essas projeções que, de resto, são mais baixas do que os 4,5% em que vêm insistindo as autoridades dos ministérios da Fazenda e do Planejamento. A falta de justificativas para esse ponto parece dar razão às advertências daqueles analistas para os quais o crescimento do PIB em 2012 não deverá ser muito mais alto do que os 2,7% registrados em 2011.
Mais uma observação. Se a inflação deste ano ficará até mesmo abaixo da meta, de 4,5% em 2012, como o Relatório deixa claro, parece aberto o espaço para que o Ministério da Fazenda autorize o reajuste dos preços dos combustíveis, especialmente da gasolina e do óleo diesel. Nesse caso, o Banco Central terá de abandonar a hipótese de que se mantenha o reajuste zero em todo este ano.
Aí está a evolução do IGP-M. No período de 12 meses terminado em março, a evolução foi de 3,23%. No mesmo período, o IPCA-15 avançou 5,61%. Para os locadores de imóveis, o IGP-M parece mirrado, porque é muito usado para reajustar aluguéis. Tem ano em que o IGP-M corre bem acima da evolução do custo de vida. Em outros, acontece o contrário. A principal diferença se deve ao fato de ele carregar 60% de preços no atacado.
Virada. Não se espera mais evolução negativa do IGP-M, como foi em fevereiro. A inflação vai refletir a virada.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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