“Foi tanta a proteção a Cabral que ele passou dos limites. Uma tragédia na Bahia e as imagens de Paris começam a corromper o aço que o protege. Acontece que a CPI do "ai se eu te pego" se tornou a CPI do "vamos recuar os zagueiros". Entraram na retranca. Não convocaram governadores, fogem da Delta como o diabo da cruz.
Cabral está marcado por perguntas não respondidas e vai conviver com elas por muito tempo. E a CPI, de tanto evitar o tema Delta, acaba se enrolando nele. No início era apenas Cachoeira. Depois a Delta, mas só a do Centro-Oeste. Com as evidências de que o dinheiro clandestino tinha origem e autorização na matriz da empresa no Rio, só gente muito sem-vergonha tem coragem de restringir as investigações. E essa gente sem-vergonha é maioria esmagadora.
O único consolo que destinam a si próprios e a Cabral é o fato de que tudo repercutiu na classe média, não chegou aos mais pobres. A desinformação é a esperança do PT de Cabral e de Cabral do PT. No passado, a esquerda ao menos se dizia aliada das luzes. Hoje, no Brasil, sonha com as trevas, bons advogados, marqueteiros que fazem do limão uma limonada e legiões de robôs para insultar os adversários. Coisa Nossa.”
GABEIRA, Fernando, jornalista. Coisa Nossa, O Estado de S. Paulo, 25/5/2012
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