quarta-feira, 18 de julho de 2012

À procura de uma estratégia:: Celso Ming

Toda a política anticíclica para enfrentar a paradeira atual se concentra em estímulo ao consumo e à indústria de bens finais. O consumo é empurrado graças a bons reajustes salariais e ao forte avanço do crédito. E as principais indústrias de bens finais favorecidas são montadoras de veículos, produtoras de aparelhos domésticos (linha branca) e têxteis. A rigor, ainda não há incentivos à indústria de base nem às produtoras de matérias-primas e bens intermediários.

O encarecimento da produção, sobretudo da mão de obra, sufoca a indústria, dilapidada pelo custo Brasil: impostos demais, energia cara, infraestrutura precária, etc. O setor produtivo já enfrentava a derrubada de seu poder de competição e a crise agravou o problema. A concorrência externa, pressionada por excesso de estoques e estimulada pelos governos, passou a empurrar produtos no mercado internacional mais agressivamente. E a indústria nacional enfrenta a adversidade elevando importações de componentes, peças, conjuntos e capital de giro. É a maior razão para que o impulso do consumo interno seja suprido por importações.

A deterioração do saldo comercial mostra isso. A dependência das importações por parte da indústria é o grande motivo pelo qual a desvalorização do real (alta do dólar) não ajuda, como queria o governo e pleiteava a indústria, e contribui para novo aumento de custos. O avanço do câmbio para R$ 2,50 ou R$ 2,60 por dólar (para reestimular exportações e conter importações) baquearia ainda mais a competitividade.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, alerta para que o foco da política econômica se volte para o investimento. Essa ideia se espraia por toda a equipe econômica do governo Dilma. Nesta terça-feira a Câmara dos Deputados aprovou a segunda Medida Provisória do Plano Brasil Maior, prevendo, entre outros incentivos, a elevação de R$ 209 bilhões para R$ 227 bilhões em financiamentos do BNDES para modernização da indústria. Mas só isso não basta.

São três os principais obstáculos para essa virada. Primeiro, o empresário reluta em embarcar em projetos de crescimento, por temer a crise e o impacto em seus negócios. O próprio governo não perde a chance de avisar que não há garantias de que os grandes problemas globais sejam resolvidos a médio prazo. Em segundo lugar, a administração federal tem graves problemas de gestão, não cumpre cronogramas de projetos com verbas já liberadas e enfrenta enorme lentidão na expedição de licenciamento ambiental. (Os problemas enfrentados pela Petrobrás são o melhor exemplo disso.) E, em terceiro lugar, o governo segue excessivamente contaminado por uma mentalidade de aversão à distribuição de concessões ao setor privado. Confunde isso com privatização de atividades que entende essencialmente estatais e chama essa possibilidade de privataria.

Ainda há tempo para enfrentar essas inércias. Mas é preciso decisiva mudança de postura da administração federal, ainda fortemente influenciada pelo ativismo e pela visão de curto prazo. Hoje, o governo perdeu a iniciativa. Está encurralado pela crise e pela prostração do empresário nacional. Por sua vez, o empresariado não pede outra coisa ao governo senão câmbio. Se fosse atendido, não haveria o que chegasse e a economia se veria prostrada em novos aumentos de custos.

CONFIRA

No gráfico, a escalada do dólar no câmbio interno (desvalorização do real) neste ano, de 8,45% até esta terça-feira.

Batata quente. O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, pressionado nesta terça-feira em seu testemunho semestral no Comitê de Bancos do Senado, jogou de volta a bomba: “O Congresso está no comando aqui, não o Fed”. Bernanke chamou os parlamentares às falas. E, embora tenha defendido a flexibilização das rígidas regras fiscais americanas, não deve realizar nova rodada de afrouxamento quantitativo antes da reunião de política monetária de setembro.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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