quarta-feira, 18 de julho de 2012

Todavia, cresce:: Míriam Leitão

Uma informação importante a se ter em mente: 2012 não é 2009. O PIB mundial não está encolhendo. Está havendo menos crescimento do que se previa, mas a economia mundial terminará o ano maior do que em 2011. Mesmo assim, os efeitos são fortes. O Brasil venderá US$ 10 bilhões a menos em minério de ferro por redução de preço e volume. O saldo comercial será 73% menor, segundo previsão da AEB, Associação do Comércio Exterior.

A crise está concentrada na Europa, mas Estados Unidos, América Latina, Ásia e África estão crescendo em 2012. Em geral, o ano está frustrando as projeções de crescimento, mas é diferente de 2009. A previsão do FMI para a expansão do PIB global este ano é de 3,5%. Em 2009, houve encolhimento de 0,6%. Numa entrevista que fiz com o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, naquele ano, ele chamou a atenção para uma tabela com o desempenho dos países. Era um mar vermelho. Algumas das poucas exceções eram China e Índia. Em 2012, não é assim. Aquele quadro agudo de crise internacional passou.

Mas não está bom. A economia americana frustrou todas as previsões de que retomaria rapidamente o crescimento pelo dinamismo das suas empresas e flexibilidade do seu mercado de trabalho. Os Estados Unidos conseguiram derrubar a taxa de desemprego de 11% para 8%, mas em parte porque há o desemprego por desalento, nome que se dá para aquela parcela dos desocupados que desistiu de procurar trabalho.

Neste aspecto, o Brasil está bem, porque mesmo na crise consegue manter três boas notícias: desemprego baixo, redução da informalidade e diminuição da economia subterrânea. Por outro lado, os dados divulgados ontem pela AEB preocupam, porque mostram que a dependência excessiva do Brasil de commodities faz com que as oscilações mundiais nos afetem mais rapidamente.

Segundo a AEB, nove dos dez maiores produtos de exportação e 18 dos 20 são commodities. O minério de ferro continua sendo o principal produto de exportação, mas teve queda forte pela redução de 22% no preço e de 5% no volume comercializado por causa da crise internacional. Doze dos 20 produtos que o Brasil mais exporta enfrentam queda nas vendas, ou por preço, ou por volume, ou ambos. O Brasil barra produtos manufaturados e os incentiva, mas nem há aumento de importação desses produtos, nem eles ganham espaço no mercado internacional.

O mundo crescerá menos do que o previsto, mas não encolherá como em 2009. Agora, o centro dos tremores continua sendo a Europa. Durante muito tempo o mundo ainda sentirá os efeitos da crise global. O FMI estudou 310 crises bancárias e cambiais durante 40 anos e cinco grandes crises globais, como a de 1907. Verificou que sete anos depois da sua eclosão, 75% dos países estavam com uma queda da sua possibilidade de crescimento. Alguns ativos desaparecem para sempre com a destruição do capital físico. Nem sempre há possibilidade de realocação de mão de obra, porque não se pode improvisar um funcionário qualificado para uma função em outra totalmente diferente. Se o mesmo padrão se verificar, e a gente considerar que a crise começou em 2007/2008, o mundo tem pela frente dois a três anos de crescimento abaixo do que crescia antes da eclosão de todos os problemas com as hipotecas e bancos americanos.

Levando-se em conta que a crise tem efeitos duráveis e que o Brasil está muito exposto ao mundo por ter 70% das suas exportações concentradas em commodities, está mais do que na hora de fazer um plano mais permanente de proteção contra esses abalos. Não há de ser a política econômica "matrioska" que vai resolver tudo.

Matrioska é aquela bonequinha russa que você abre e tem outra igual, depois outra e assim sucessivamente. Os pacotes são sempre os mesmos, mas seus efeitos são cada vez menores para sustentar o crescimento. E o país tem crescido cada vez menos.

Pode-se ficar aguardando a próxima onda do mundo, mas a julgar pelos estudos, nessa espera o risco é perder meia década ou mais com taxas mínimas de crescimento.

Não há possibilidade de se ter uma conversa hoje com algum empresário que não reclame das mesmas coisas: falta de infraestrutura física e de comunicação; o cipoal dos impostos drena as forças da empresa; os tributos são altos demais em alguns insumos, como energia e comunicação; a demora da resposta a qualquer pedido ao setor público é irracional.

Uma empresa me contou que para um encontro feito aqui, entre seu principal executivo mundial com um grupo de brasileiros, foram enviados alguns kits com canecas com logo da empresa e outras coisas assim. Isso há quatro meses. Ficaram presos na Anvisa, porque continham também uns chocolates. Tudo bem, é a legislação do país. Mas nesses quatro meses, o encontro já ocorreu, o executivo foi embora e deve estar falando muito mal do Brasil a essa altura.

Dado que 2012 não é 2009, ou seja, o mundo não está no agudo da crise tentando evitar o pior, o Brasil poderia aproveitar a oportunidade e começar a enfrentar os gargalos. Não há de ser com a "matrioska" dos favores setoriais que se vai preparar o novo salto da economia brasileira.

FONTE: O GLOBO

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