Para a campanha do petista, sem conseguir apresentar-se a uma parcela expressiva da população, ele ainda será prejudicado pela análise do caso no Supremo, que ofuscará o início do pleito municipal
Paulo de Tarso Lyra
O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para começar na próxima quinta-feira, 2 de agosto, trará mais uma dor de cabeça para a campanha do candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Como a análise do caso deve mobilizar a atenção dos brasileiros, principalmente nesta primeira fase, quando o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentará a acusação e os advogados colocarão seus argumentos de defesa, o interesse do eleitorado pela disputa municipal será mínimo durante esse período.
Para um candidato pouco conhecido como é Haddad, essa divisão poderá ser mortal. "Para nós, seria ideal que o eleitorado já estivesse concentrado na campanha", reconheceu ao Correio o presidente do diretório municipal do PT, Antonio Donato. Passados quase um mês do início das campanhas de rua e mais de 40 dias da oficialização da candidatura, Haddad não consegue superar o intervalo entre 6% e 8% das intenções de voto. O PT se esforça para tornar seu candidato conhecido, mas, até o momento, nada do que foi tentado surtiu efeito. Nem mesmo as aparições de Lula — inclusive no Programa do Ratinho, ao lado de seu pupilo — foram suficientes para alavancar o nome de Haddad.
Donato afirmou que, no caso dos principais concorrentes do petista à prefeitura, essa divisão do noticiário entre mensalão e eleições tem um potencial de estrago menor. O candidato do PSDB José Serra, por exemplo, é conhecido por 100% do eleitorado. Grande surpresa nas pesquisas até o momento, o candidato do PRB Celso Russomano é conhecido por 94% do eleitorado. Apesar de ex-ministro da Educação, Haddad ainda é pouco conhecido entre os paulistanos — apenas 55% sabem quem ele é. "Quanto mais tempo a campanha demorar para engrenar, mais difícil fica", reconheceu Donato.
Petistas procurados pelo Correio não acreditam, no entanto, que as acusações de corrupção contra o PT que virão à tona mais uma vez durante o julgamento do mensalão poderão atrapalhar o desempenho de Haddad. Lembram que o pior momento para o partido foi durante a campanha de 2006, um ano depois que o escândalo estourou. Lula foi reeleito, o PT elegeu a maior bancada de deputados na Câmara e o candidato do partido ao governo de São Paulo não chegou ao segundo turno por causa de outro escândalo: os aloprados.
Os coordenadores da campanha de Haddad correm contra o tempo para tentar atingir a meta estabelecida por eles: chegar ao início do horário eleitoral gratuito, em 21 de agosto, com aproximadamente 10% das intenções de voto. Alguns militantes que não participam diretamente da campanha acham que, se o PT tivesse apresentado outro nome, esse percentual de 10% já teria sido alcançado. "Eles estão pagando por erros cometidos lá atrás e estão tentando, com essa desculpa do julgamento do mensalão, colocar um "bode na sala"", provoca um integrante da direção nacional do PT.
Horário gratuito
Dentre esses erros, estariam, basicamente, três: o processo atropelado de escolha de Haddad, que provocou a desistência de Marta Suplicy; a demora para fechar um acordo com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, até que esse decidisse pela aliança com o tucano José Serra; e a famosa foto de Haddad e Lula apertando a mão de Paulo Maluf no dia do acerto da coligação com o PP. "Coligação tudo bem, mas posar para foto foi demais para a militância", reconheceu um cacique partidário.
Quando o horário eleitoral começar, Haddad terá à sua disposição aproximadamente sete minutos e meio de exposição pela manhã e à noite, além de 15 inserções de 30 segundos ao longo de todo o dia. Como existe uma tendência que o eleitorado se canse da propaganda política, são nessas inserções, espalhadas ao longo da programação, que o PT aposta as fichas para tornar Haddad conhecido. "As propagandas vão entrar no meio do futebol e da novela, não dará tempo para o telespectador mudar de canal", brincou Donato.
Para o vice-presidente da CPI do Cachoeira, deputado Paulo Teixeira, Haddad deverá chegar à reta final da campanha, em meados de setembro, com 35% das intenções de voto. "Além do horário eleitoral, o nosso candidato contará com o apoio do ex-presidente Lula e da presidente Dilma", acrescentou Teixeira.
Memória - Posições erráticas
Desde que o escândalo do mensalão foi deflagrado, em junho de 2005, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou de opinião algumas vezes sobre o caso. Logo no início da crise, durante discurso em uma reunião ministerial realizada na Granja do Torto, afirmou que "se sentia traído" e pediu desculpas ao povo brasileiro por atos cometidos por alguns integrantes do PT. Depois, em entrevista a um canal de televisão francês, declarou que "o PT fizera a mesma coisa que outros partidos fazem no Brasil (caixa dois de campanha)".
Reeleito presidente em 2006, Lula passou a dizer que o mensalão não existiu e que tudo se resumia a "um golpe que as elites tentaram dar no país". Repetiu esse mantra ao longo de todo o segundo mandato e prometeu que, após deixar o Palácio do Planalto, viajaria o país para denunciar "a farsa do mensalão".
O movimento mais emblemático de Lula após deixar a presidência foi a reunião com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes no escritório de advocacia do ex-ministro Nelson Jobim. Durante o encontro, Lula teria pedido a Mendes que tentasse com os seus pares o adiamento do julgamento para depois do período eleitoral. Em troca, garantiria proteção a Gilmar na CPI do Cachoeira. Lula confirmou o encontro, mas desmentiu o teor da conversa.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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