Semana que vem o Supremo Tribunal Federal inicia o julgamento do mensalão - nome dado a um esquema de desvio de dinheiro público, para a compra da base de apoio do governo Lula, coordenado pela Casa Civil, então sob o comando de José Dirceu, de quem se falava que iria suceder o presidente.
Esse esquema, articulado "por uma sofisticada quadrilha", no dizer do então procurador da República, e autor da denúncia junto a Alta Corte, utilizava entes públicos (Banco do Brasil) e privados (BMG e Banco Rural) para os repasses de dinheiro, que inundou as contas bancárias dos deputados, bem como de suas campanhas, por meio do "operador do esquema" Marcos Valério.
O Banco Rural, aliás, buscando livrar-se da acusação de lavagem de dinheiro, vai pôr em xeque um dos principais pontos das defesas de Marcos Valério e do PT.
As alegações enviadas pelos dirigentes do banco ao STF sustentam que recursos públicos abasteceram as contas da empresa SMP&B, de Valério.
Essas contas foram usadas para pagar o mensalão a políticos aliados do governo Lula. Confrontando a base da defesa de Marcos Valério e do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de que não houve desvio de recursos públicos, e que o dinheiro repassado aos políticos tem origem em empréstimos legais contraídos junto aos bancos Rural e BMG. Mas o banco não confirma essa versão e diz que os recursos públicos passaram pelas contas da empresa de Valério, contratada pelo Banco do Brasil.
Assim,um governo que foi o depositário de fundadas esperanças de mudanças profundas da estrutura do Estado e comprometido com a ética, vê-se envolvido em um enredo de novela policial, onde o jogo do poder é exercido com a violência que tal literatura tornou clássica, com extorsão, assassinatos, violência, chantagem, etc.
A cúpula do primeiro governo Lula, juntamente com a cúpula do PT à época e diversos parlamentares de partidos aliados serão julgados pelo maior escândalo de corrupção da história da República.
O julgamento em si, independente de seu resultado, é um marco importante do bom funcionamento das instituições brasileiras.
O STF tem agido com a imparcialidade, apesar das diversas pressões a que tem sido submetido.
Lembramos que Lula tentou pressionar pelo adiamento do julgamento e José Dirceu convocou os movimentos sociais a irem para a rua em sua defesa, convocação renovada pelo presidente da CUT.
O ambiente é de chantagem entre os envolvidos.
Marco Valério, como mostrou a Veja, manda recados ao líder Lula de que pode envolvê-lo.
Roberto Jefferson, o denunciante, agora diz que Lula sabia.
É óbvio que todo o esquema tinha Lula como último beneficiário, afinal, tratava-se de comprar deputados para compor a base aliada de seu governo.
No entanto, o Procurador Geral entendeu que não havia elementos para incluí-lo na denúncia e, portanto, Lula não irá a julgamento.
Essas manobras dos réus são apenas tentativas de tumultuar o processo ao seu final.
O STF julgará somente com o que consta nos autos.Ojulgamento será histórico porque o STF julgará integrantes do governo de um partido que ainda está no poder, com a devida isenção.
É necessário que esse episódio seja superado com o devido processo legal, o demonstrará a vitalidade das instituições democráticas.
Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
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