Ailton de Freitas
BRASÍLIA. Um dia depois de declarar que Delúbio Soares era "executor das decisões da Executiva Nacional do PT", o advogado Arnaldo Malheiros Filho ajustou suas declarações para também poupar a direção petista, como vinha fazendo o ex-tesoureiro do partido e réu no processo do mensalão. Em nota enviada ao GLOBO, Malheiros Filho esclareceu que partiu da direção do PT a ordem para que fossem saldadas dívidas de campanha do próprio partido e também de aliados nas campanhas de 2003 e 2004. Mas a decisão de usar empréstimos contraídos por Marcos Valério em nome do PT foi de Delúbio, seu cliente.
Na entrevista concedida ao GLOBO anteontem, Malheiros declarara que "todas as decisões eram do colegiado, da Executiva".
- Delúbio não tomava decisões. Era o executor das decisões da Executiva Nacional do PT - disse o advogado na entrevista.
Na nota, corrigiu: "Eu deveria ter sido mais claro e explicar que a "decisão" a que me referi é a decisão de saldar os débitos dos diretórios locais do PT e dos partidos da base aliada, tomada em colegiado. Já com "execução" dessa decisão, referi-me ao levantamento dos recursos e seu repasse para os beneficiários, função de um tesoureiro."
Ele reafirmou na nota que não haverá mudança na linha de defesa de Delúbio no julgamento previsto para começar no próximo dia 2 de agosto no Supremo Tribunal Federal. "Delúbio nunca mudou de versão, nem tem mais oportunidade de falar. Portanto não faz nenhum sentido que eu, "às vésperas do julgamento" apresente versão diferente da de meu cliente", afirmou na nota. "A versão que apresentei é, como não poderia deixar de ser, a de meu cliente. Eu quis prestigiar a concisão e prejudiquei a clareza", acrescentou, referindo-se à entrevista que deu ao GLOBO.
Na ação penal que investiga o escândalo do mensalão, Delúbio Soares é acusado de se associar a Marcos Valério para repassar recursos a deputados da base aliada. Em depoimento no processo, o ex-tesoureiro do PT contou que conversava com Valério sobre as dívidas de campanha. Segundo Delúbio, o dono da agência de publicidade SMP&B teria se oferecido para ajudar.
- Delúbio, eu tenho interesse, eu tenho condição. Minhas empresas são sólidas, tenho crédito. Posso fazer isso, depois o senhor arrecada recursos e devolve às minhas empresas? - teria dito Valério, segundo relato do próprio Delúbio.
O ex-tesoureiro disse ter concordado, e Valério contraiu junto aos bancos Rural e BMG o equivalente a R$ 55 milhões. Coube a Valério fazer os pagamentos para políticos petistas e também para aliados.
FONTE: O GLOBO
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