Câmaras Municipais são a fonte da desgraceira que vai galgando, como trepadeira venenosa, alturas legislativas
O jogo está iniciado. Partimos outra vez para 90 dias de discussões, promessas, apelos, acusações, insultos, marquetices. Tudo movido por fortunas. E reunido como um espetáculo grotesco com a pretensão de seduzir-nos, em nosso mínimo poder de premir uns poucos botões ao fim dos três meses.
Tem valido a pena? Todo esse longo e fundo intervalo justifica-se mesmo? O gasto de tanto dinheiro, na maioria das vezes mal-intencionado já na doação, não tem sido um desperdício abusado, com tantas carências em tão grande número de cidades?
Uma minoria de prefeitos, entre os mais de 5.500, faz por não ser uma presença indesejável ou inútil no seu município. Uma minoria mínima naquela minoria, mostra-se à altura da honra recebida do eleitor. Dá sentido ao cargo, dá sentido à administração pública.
Mas o que dizer das Câmaras Municipais? Ali e acolá, uns quantos vereadores têm seriedade e bons propósitos. A realidade, porém, pelo país todo, é de Câmaras Municipais reduzidas a abrigos de negócios ilícitos, quase todos à custa de alguma parte do território ou da vida da cidade.
Não lhes bastando a baixeza a que foram levadas, as Câmaras Municipais são a fonte da desgraceira política que vai galgando, a partir dali, como trepadeira venenosa, as alturas legislativas -Assembleias Estaduais, Câmara dos Deputados, Senado da República. E destes também para os ramos de governo.
As próximas eleições vão aumentar em mais de 5.000 o número de vereadores. É a contrapartida, avalizada pela Justiça Eleitoral, ao ressurgimento de propostas para que as Câmaras Municipais se tornem menores.
O que é ruim vai piorar. Porque, para os venais, os associados a atividades ilícitas, os desclassificados, é mais fácil eleger-se do que é para os bem-intencionados. Já se sabe como será ocupada a grande maioria das novas cadeiras.
Pois é, o jogo está iniciado outra vez. E, para o bem ou para o mal, temos a nossa parte nele.
O outro
Sereno, seguro, inteligente nas inquirições, ao presidir a CPI da Infraero o deputado Marco Maia (PT-RS) deixou a impressão de que seria um bom presidente da Câmara. Concorreu e ganhou. Mas a impressão revelou-se enganosa.
Marco Maia, hoje, é um caso exemplar de presunção e arrogância. O que seria problema dele e de quem não lhe dê resposta adequada. Mas há um lado ruim também para o país: na condução da Câmara, adotou um corporativismo primário e demagógico.
Em dia da semana passada, ao ver os repórteres, foi disparando com ar de deboche: "Ponham em letras garrafais: aumentada a verba dos deputados". É que teve a sem-cerimônia de aumentar em 30% aquela "verba de gabinete" com que os deputados contratam parentes, parentes de outros políticos, gente do faz de conta que vai ao gabinete e gente que nem de conta faz.
Em outro dia da semana, quando deveria receber comitivas que levavam a Brasília assinaturas populares pelo fim do voto secreto na Câmara e no Senado, Marco Maia caiu fora, sem a menor consideração. Que voltassem no dia seguinte, e pronto.
O Senado aprovou na quarta-feira, por 56 a 1 e por 55 a 1 nas duas votações, o fim do voto secreto no plenário em processos de cassação de mandato. Na Câmara, a segunda e final votação do projeto não está nem entre as consideradas para próximas prioridades. Marco Maia alia-se aos líderes contrários ao voto aberto.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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