Futura gestão precisará garantir legado social das Olimpíadas, cumprir prazos e gerir instalações
Cássio Bruno, Renato Onofre
Começa hoje a contagem regressiva para o início dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio. Nos próximos quatro anos, caberá ao prefeito eleito cumprir e entregar no prazo as obras de infraestrutura da cidade previstas no compromisso enviado ao Comitê Olímpico Internacional (COI), além de gerenciar a construção das principais instalações olímpicas. Outro desafio da futura gestão municipal será garantir que a realização da competição represente também um legado social aos cariocas.
Em outubro, termina o prazo para eventuais modificações nos projetos. A partir daí, eles não serão mais passíveis de alterações.
O prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, afirma que manterá todos os projetos atuais e que sua maior preocupação, se vencer, será com a própria organização do evento. Paes lidera com folga as pesquisas: segundo o Ibope, tem 49% das intenções de voto, e, pelo Datafolha, 54%. Marcelo Freixo (PSOL), que aparece em segundo, está longe: tem 8%, pelo Ibope, e 10%, pelo Datafolha.
Rodrigo Maia (DEM), Otavio Leite (PSDB) e Aspásia Camargo (PV) são unânimes. Para não fazer feio, a prefeitura terá de reestruturar o trânsito. Freixo diz que falta transparência nos contratos com o setor privado, o que dificultará o evento.
Fazendo considerações genéricas, nenhum dos quatro oposicionistas, porém, detalhou ao GLOBO a proposta sobre como conduzir o projeto olímpico do Rio.
- Sem dúvida, é organizar o trânsito da cidade durante o período das competições. O exemplo de Londres nos aponta isso - afirma Leite.
- Precisamos estruturar a engenharia de tráfego da cidade, que, infelizmente, anda muito mal nos últimos tempos - completa Maia.
Aspásia lembra que a ampliação do sistema de transporte não é função da prefeitura:
- Não é o prefeito que pode dar soluções mais robustas, como ampliação de linhas de metrô e de transporte sobre trilhos.
Das obras visando a melhorias físicas para a cidade, a construção dos ramais de ônibus articulados (BRTs) é a mais adiantada, apesar de já apresentar problemas de manutenção, como buracos. Estão previstos 150 quilômetros de vias, divididas em quatro linhas: Transoeste, Transcarioca, Transolímpica e Transbrasil.
Em Londres, que tem um dos mais completos sistemas de transporte de massa do mundo, com interligações entre trem, metrô e ônibus, os Jogos também significaram engarrafamentos, ligando o sinal de alerta do Comitê Olímpico Rio 2016.
- Em qualquer cidade que receba os Jogos, o transporte é sempre o desafio - afirma o diretor do Comitê Olímpico Rio 2016, Leonardo Gryner.
Legado social é preocupação
O investimento social é outra preocupação. Pelo dossiê de encargos, há o compromisso de investir em comunidades carentes no entorno dos complexos esportivos. Paes afirma que já há investimentos nesse setor:
- Pergunta à dona Maria que saía de Santa Cruz para a Barra da Tijuca num ônibus comum o que representou para ela a inauguração da Transoeste. Um de nossos grandes legados (sociais) é transporte. Nós concluímos as vilas olímpicas do Caju e do Mato Alto, e estamos construindo mais duas em Guaratiba e Honório Gurgel. Sem contar o projeto Morar Carioca para urbanizar as comunidades.
Sandro Corrêa, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, alerta:
- O legado social tem que ir além da melhoria de infraestrutura. E deve ser sentido também no campo administrativo, com o saneamento das contas públicas após os Jogos Olímpicos.
Nos Jogos Pan-americanos do Rio, em 2007, o orçamento previsto inicialmente era de R$ 414 milhões. Mas, no fim, as obras custaram R$ 3,7 bilhões aos cofres públicos.
A presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Sílvia Bastos Marques, informou que só no segundo semestre do ano que vem o custo dos Jogos será conhecido. O orçamento original, apresentado no Dossiê de Candidatura em 2007, previa investimentos de R$ 28,8 bilhões, valor hoje considerado defasado. Destes, R$ 23,2 bilhões seriam aplicados em infraestrutura e instalações pelos três níveis de governo, e R$ 5,6 bilhões, pelo Comitê Organizador.
Ficam para o próximo prefeito questões como a construção de um novo autódromo, exigida pela Confederação Brasileira de Automobilismo pela cessão da pista que receberá o Parque Olímpico. Assim como a remoção das famílias que moram ao lado da futura instalação, em Jacarepaguá. Há indefinições quanto ao reaproveitamento do Velódromo e do estádio de São Januário para competições de rugby.
FONTE: O GLOBO
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