No primeiro comício depois do tratamento contra o câncer, ex-presidente pediu votos para Patrus e cobrou o PSB pelo rompimento da aliança com PT
Alice Maciel e Juliana Cipriani
"Eu voltei para viver e fazer muitos discursos." Assim, se dirigindo aos amigos e aos adversários com o mesmo bom humor e acidez de antes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornou ontem ao palanque depois do longo tratamento contra um câncer na laringe. Para o primeiro comício depois de cerca de um ano, o petista escolheu Belo Horizonte, uma das capitais prioritárias para o partido, que tem como candidato a prefeito o seu ex-ministro de Desenvolvimento e Combate à Fome, Patrus Ananias. Apesar de na noite anterior, na casa do presidente estadual do PSB, Walfrido Mares Guia, Lula ter recomendado ao seu apadrinhado político a moderação na campanha, no palanque o ex-presidente partiu para o ataque contra o antigo aliado, hoje adversário, o prefeito Marcio Lacerda (PSB), a quem chamou de tecnocrata.
Às 5 mil pessoas que foram à praça, segundo cálculos da Polícia Militar, Lula falou do rompimento do PT com o PSB, de Marcio Lacerda. Segundo ele, "Deus colocou o dedo no lugar certo" e tirou a legenda da aliança. "Não quer mais ficar com o PT? Tudo bem. O PT não vai ficar chorando, porque um partido que tem um homem da qualidade do Patrus não tem que temer o adversário nem contrariedade. E é importante que eles (os socialistas) saibam que não estariam no governo se não fôssemos nós", discursou. Em seguida, atacou o perfil técnico pelo qual Lacerda é conhecido. "O povo de Minas Gerais vai saber escolher a diferença entre um tocador de obras só, que às vezes não sabe nem rir, que às vezes parece que não tem coração, parece uma pedra de gelo. E vai conhecer outro tocador de obras que está fazendo uma ponte de olho na criança que está brincando na rua com esgoto a céu aberto", comparou. Lula afirmou que os adversários pensaram que o PT estava derrotado. "Não quiseram nem fazer aliança proporcional conosco porque faz parte da cabeça deles tentar destruir o PT", considerou.
Lula também criticou o governo tucano. "Parece que o governo estadual não está tão bem quanto falava. Se o (governador) Anastasia pudesse falar, falaria que o estado está quebrado", disse, emendando que não falaria mal de ninguém. O ex-presidente aproveitou para dizer que o programa federal Luz para Todos teve o nome mudado em Minas pelo governo estadual. "A gente nunca se incomodou porque a gente sabe que o povo de Minas Gerais, que foi capaz de produzir a independência deste país, não se deixa enganar por propaganda falsa na televisão", acrescentou.
Recursos federais Sobrou munição também para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que, segundo ele, "não dava dinheiro para ninguém". O petista disse ter escolhido Belo Horizonte para o primeiro comício por sua relação com Patrus, que comandou a pasta responsável por um dos principais programas do seu governo, o Bolsa-Família. Segundo o ex-presidente, na época que Patrus foi prefeito não tinha "Dilminha lá" nem "Lulinha lá" como hoje, quando a maioria das obras feitas em Belo Horizonte tem recursos federais.
Ainda com a voz alterada e recomendações médicas para falar pouco, Lula se excedeu, discursando por cerca de 12 minutos. Bebeu água várias vezes enquanto esteve no palanque e teve de parar o discurso para beber mais. O ex-presidente disse que antes do medo da morte, ao saber do câncer na laringe, lhe veio o medo de não poder mais discursar. "Foi um dom de Deus saber falar com as pessoas. Estou muito feliz, Patrus, de poder hoje em Belo Horizonte, nesta praça em que fizemos tantos comícios, poder estar aqui fazendo meu primeiro comício", disse. Lula saiu pela lateral do palco e cumprimentou os que estavam mais próximos.
Antes de Lula, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que o PSB não cumpriu suas promessas de campanha e não tem sensibilidade. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que chegou a disputar com Patrus a indicação por uma candidatura ao governo do estado em 2010, discursou sob vaias.
Patrus falou de seus feitos quando governou BH entre 1993 e 1996 e reafirmou compromissos para um eventual governo. Antes do comício, Patrus revelou que, na casa de Walfrido, Lula recomendou a ele que tivesse tolerância aos ataques de Lacerda. "O ex-presidente fez uma ponderação que vou pôr rigorosamente em prática, de não responder às provocações. Conversar sempre com a população", disse.
FONTE: ESTADO DE MINAS
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