sábado, 1 de setembro de 2012

Brasil teve semestre perdido na economia

Crescimento foi de apenas 0,6%, o pior desde 2009, no pós-crise

Boa safra de café ajudou no desempenho da economia. Analistas apontam que consumo das famílias dá sinal de que não consegue mais sustentar o PIB. É preciso elevar investimentos

A economia brasileira, no primeiro semestre deste ano, teve seu pior desempenho desde 2009, ano em que o país entrou em recessão afetado pela crise global. A alta foi de apenas 0,6%. Na comparação do segundo com o primeiro trimestre, o percentual foi de 0,4%, de acordo com o IBGE, influenciado principalmente pela agropecuária. O consumo das famílias, que cresce há 35 trimestres seguidos, está perdendo o fôlego. Indústria e investimento recuaram. Desde 2008, os serviços seguram o PIB, informa Flávia Oliveira.

E O PIBINHO NÃO REAGE...

Economia em ritmo de crise

PIB cresce só 0,6%, no pior semestre desde a recessão de 2009. Investimento desaba

Cássia Almeida, Fabiana Ribeiro

A economia brasileira no primeiro semestre teve seu pior desempenho desde 2009, ano em que o país entrou em recessão afetado pela crise global. A pequena alta de 0,6% foi o resultado mais fraco desde a retração de 2,6% no mesmo período daquele ano, de acordo com os números das Contas Nacionais Trimestrais, divulgados ontem pelo IBGE. O consumo continuou carregando a economia, juntamente com a agropecuária, enquanto o investimento, por causa de uma indústria fraca e confiança abalada, desabou.

A aparente recuperação do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), de 0,4% no segundo trimestre frente ao início do ano (quando o crescimento se limitou a 0,1%), esconde uma deterioração de setores que até março mostravam um desempenho melhor, como comércio (-0,1%) e construção civil (-0,7%).

Cenário externo abala confiança

Frente ao mesmo período do ano passado, o país cresceu apenas 0,5% e, no acumulado dos últimos 12 meses, 1,2%. No trimestre, o PIB somou R$ 1,10 trilhão. Se a economia repetir este avanço de 0,4% nos próximos três trimestres, o país crescerá apenas 1,6%.

- A queda da indústria (de 2,5% no trimestre) foi puxada pela transformação. Foi a queda na produção que causou o freio nos investimentos - afirmou Rebeca Palis, gerente da pesquisa do IBGE, acrescentando que os serviços foram o lado positivo do PIB, com alta de 0,7% frente ao início do ano, taxa que vem se mantendo neste patamar desde o último trimestre de 2011.

Analistas afirmam que a demanda mais fraca no mundo por causa da crise abalou a confiança dos empresários aqui, provocando a queda de 0,7% nos investimentos frente ao primeiro trimestre e de 3,7% contra igual período de 2011 - foi o pior resultado desde o primeiro trimestre de 2009, quando os investimentos caíram 9% nesta comparação. A parcela do PIB voltada para elevar a capacidade produtiva do país, assim, caiu fortemente: de 18,8% no segundo trimestre de 2011 para 17,9%.

- O que sustentou a economia no trimestre foi a agropecuária (expansão de 4,9%). Ela respondeu por 67% da expansão dos 0,4% de todo o PIB. Setores que vinham bem começaram a cair - afirmou Armando Castelar, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).

"Não basta só aumentar o consumo"

Os estímulos do governo ao consumo surtiram efeito e os gastos das famílias cresceram 2,4% frente a igual período do ano passado, no 35º trimestre de avanço contínuo. Mas, na comparação com o trimestre anterior, a alta foi de 0,6%, inferior ao 0,9% registrado entre janeiro e março. Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), lembra que, a despeito do juro menor, o consumidor está endividado a curto prazo. E que, agora, para o país voltar a crescer, é preciso ampliar os investimentos.

- Não basta só aumentar o consumo. É preciso ampliar os investimentos. E esses investimentos devem ser puxados pelo governo, a reboque virão os investimentos privados.

Com a alta no consumo, as importações subiram 1,9%, enquanto as exportações caíram 3,9%:

- Mesmo com o câmbio depreciado, a queda no preço de commodities fez cair as exportações principalmente de siderurgia, petróleo, máquinas e até do café - disse Rebeca Palis, do IBGE

Ajudaram a estimular o consumo a redução dos juros e, ainda, a diminuição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis e eletrodomésticos da linha branca,adotada pelo governo em maio e que foi renovada esta semana. O PIB teria sido pior se o governo não tivesse adotado essas medidas, diz José Alfredo Coutino, diretor da Moody"s para América Latina.

- Apesar de a produção não mostrar uma resposta significativa aos estímulos fiscais e monetários, sem essas medidas, o PIB poderia até mesmo ter caído no segundo trimestre - disse Coutino, para quem as ações do governo devem se refletir nos próximos trimestres.

O otimismo não é unânime. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, revisou sua projeção para o avanço do PIB este ano de 1,5% para 1,3%, assim como outras consultorias:

- Mas até esse número poderá se mostrar otimista no final.

Para alcançar 1,3%, o país precisa crescer 2% no segundo semestre. Já para alcançar os 2,5% projetados pelo Banco Central, a alta teria de ser de 4,3%. Os 3% esperados pelo Ministério da Fazenda só seriam atingidos com expansão de 5,3%, calcula Vale.

- Ou seja, teríamos que considerar a economia brasileira entrando agora em um período forte de expansão, quando tudo parece indicar o contrário.

A greve do IBGE não afetou o cálculo do PIB, de acordo com Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais.

- Tivemos dois terços dos dados de emprego do Rio de Janeiro e fizemos uma estimativa. Dados, portanto, são preliminares, sujeitos à revisão.

FONTE: O GLOBO

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