Pressionado pelos votos duros no STF, o ex-ministro José Dirceu apresentará nova petição. Ela rebaterá o último documento do procurador-geral da República, Roberto Gurgel
Dirceu "carrega nas tintas" para evitar condenação
Advogados do ex-ministro vão entregar novo documento de defesa aos ministros do STF a fim de "bater pesado" nos argumentos do procurador-geral da República
Débora Bergamasco
Pressionado pelas sentenças e votos duros dos ministros do Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro José Dirceu vai apresentar uma nova defesa na próxima terça-feira, 4. A peça rebaterá "com tintas carregadas", segundo seu advogado, a última petição de dez páginas distribuída pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no dia 16 de agosto.
O documento memorial será dirigido aos magistrados, que surpreenderam a defesa de Dirceu quando flexibilizaram a necessidade da "materialidade de provas" na hora de considerar os réus culpados. Será o terceiro memorial entregue aos ministros. Advogado do ex-chefe da Casa Civil, José Luis de Oliveira Lima afirma que não mudará em nada a linha de defesa do réu, até porque não se pode apresentar nenhum fato novo pelo memorial. "A nova petição vai bater pesado na última, apresentada por Gurgel", adiantou ele ao Estado.
O cerne do documento encaminhado ao Supremo pelo procurador-geral foi reiterar a validade de depoimentos de testemunhas como provas para os crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa, dos quais Dirceu é acusado.
O discurso de Gurgel tem se mostrado afinado até com o voto de magistrados que eram incógnitas, como a ministra Rosa Weber. Mais nova ministra no STF, indicada pela presidente Dilma Rousseff, ela patrocinou uma tese que repercutiu na Corte: "Nos delitos de poder, quanto maior o poder ostentado pelo criminoso, maior a facilidade de esconder o ilícito. Esquemas velados, distribuição de documentos, aliciamento de testemunhas. Disso decorre a maior elasticidade na admissão da prova de acusação", afirmou.
Irritação. Um interlocutor próximo a Dirceu avalia que a sentença proferida ao ex-deputado não chegou a surpreender. "A surpresa negativa foi a dureza dos votos, mas teremos que esperar o desenrolar do julgamento para consolidar nossas expectativas." Ele conta que Dirceu alterna momentos de calma e irritação. "Menos pelo julgamento e mais por certas coisas que saem na imprensa, porque ele lê tudo e vê o noticiário da TV."
Outra pessoa próxima diz que o ex-chefe da Casa Civil ficou "muito triste com a condenação de João Paulo, porque eles são amigos e também porque é muito difícil para qualquer petista ver um ex-presidente da Câmara ser condenado. "Não era um Zé Mané no partido". O mesmo companheiro afirma que Dirceu continua sereno. "Mesmo caindo a tese de caixa dois, isso não tem nada a ver com ele, não terá nenhum impacto no julgamento", apostou.
O escritor Fernando Morais, que é amigo de longa data do ex-guerrilheiro, recebeu-o para um jantar em casa esta semana. Acompanhado da namorada Evanise Santos, Dirceu levou uma garrafa de vinho. Segundo o anfitrião, ele se manteve descontraído durante a bacalhoada preparada pela cozinheira da casa. A televisão ficou desligada durante o Jornal Nacional e o horário eleitoral. "Falamos apenas sobre amenidades, como batatas e peixes e sobre meu novo projeto de criar um mega site internacional só com notícias políticas."
Ainda não houve convite formal, mas o escritor acredita que "certamente ele será meu colaborador". Morais, que aguarda o fim do julgamento para retomar as entrevistas e continuar a escrever a biografia de Dirceu, fez sua avaliação sobre o estado de espírito do colega: "Posso te garantir que para mim ele pareceu muito tranquilo, sereno e confiante. Mas sabe como é, né? Ele sempre foi muito discreto. É impossível chegar à alma do Zé".
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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