A simultaneidade das vésperas do 1º turno do pleito municipal com a etapa do processo do mensalão dedicada ao julgamento da compra de votos no Congresso pelo Executivo, atribuída explicitamente pelo relator Joaquim Barbosa ao PT e ao governo Lula entre 2003 e 2005 (relação agravada pelo envolvimento direto do ex-presidente no megaescândalo por parte de Marcos Valério na reportagem de capa de Veja desta semana e, segundo a coluna de Ricardo Noblat, no Globo de anteontem, em depoimentos que ele teria gravado para serem distribuídos em caso de ameaça de petistas à sua vida), tal simultaneidade dificulta seriamente os esforços do lulopetismo para uma grande ofensiva na “reta de chegada” desse pleito em favor de candidatos ou chapas do partido. Que estão em desvantagem em quase todas as disputas mais importantes. O julgamento do mensalão e, agora, a emergência das revelações do operador Marcos Valério (de que Lula foi o verdadeiro chefe do escândalo) agravam os danos da imagem do PT e do próprio Lula, com previsível redução do peso social e político de sua influência. E aumentam os riscos de desgaste da presidente Dilma com uma participação pessoal mais forte, cobrada pelo antecessor e pelo partido.
Uma evidência das limitações políticas que as lideranças do lulopetismo sofrem nesse contexto foi a decisão da executiva nacional do PT, adotada anteontem, de mobilizar a militância para “uma batalha contra as mentiras” do julgamento do mensalão. Decisão que, na prática, tratou de compensar a redução ou omissão do papel das lideranças pela ativação da base partidária. Justificativa do presidente Ruy Falcão para “essa batalha do tamanho do Brasil” contra “a elite, bem como a imprensa e a Justiça vinculadas a ela”: “A mobilização geral de nossa força militante é a condição fundamental para nosso sucesso nas eleições de 7 e 28 de outubro. Pois é a militância consciente que desfaz as mentiras, demarca o campo, afirma nossos projetos, reúne nossas bases e alianças, conquistando vitórias não apenas eleitorais mas também políticas”.
Na verdade, a dimensão eleitoral dessa “batalha” envolverá basicamente a preservação ou conquista de cidades médias e de maior porte do interior dos estados, tendo escassas perspectivas de mudar o quadro das disputas nas capitais, dominado por candidatos do PSB (em conflito com o PT) e por oposicionistas do PSDB e do DEM. As prioridades da “reta de chegada” já deixaram de lado as disputas de Belo Horizonte e do Recife para concentrar-se nas de Salvador e de São Paulo. Na capital baiana, a presença de Lula, na semana passada, em comício do candidato petista Nelson Pelegrino (com 27% das intenções de voto pelo Ibope), seguida anteontem por apoio da presidente Dilma na propaganda eleitoral “gratuita”, ignorando a candidatura de Mário Kertész, do PMDB (com 6%), gerou protestos do líder do maior partido da base aliada federal, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, bem como o início de negociação para possível apoio dos peemedebistas a ACM Neto (com 39%) no 2º turno.
Outra evidência do peso ganho pelo megaescândalo é a tentativa de Fernando Haddad – até agora bloqueada pela Justiça eleitoral – de exclusão da propaganda do adversário José Serra da denúncia do relaciona-mento do candidato lulista com o mensalão. Com um argumento bem resumido na manchete da Folha de S. Paulo, de ontem – “Haddad diz que associá-lo a José Dirceu é degradante”.
Quanto aos efeitos políticos mais amplos do mensalão já havíamos previsto uma queda da influência de Lula no governo Dilma e na sucessão presidencial de 2014, em favor dela. Bem como um enfraquecimento do papel do PT no Congresso. Refletido, primeiro, no compromisso assumido pela presidente com a candidatura do peemedebista Henrique Eduardo Alves para a presidência da Câmara e, dias atrás, com o fim da resistência do Palácio do Planalto ao nome de Renan Calheiros para o comando do Senado. E esse cenário se reforça com a maior vinculação ao megaescândalo do primeiro governo Lula e dele próprio, após as revelações iniciais de Marcos Valério e do possível aprofundamento e desdobramento que elas poderão ter.
Jarbas de Holanda é jornalista
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