Entrada de Serra na disputa pela prefeitura deixaria caminho aberto para Aécio concorrer à Presidência em 2014
SÃO PAULO. Cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO consideram que a entrada do ex-governador José Serra na disputa pela prefeitura mostra a dificuldade do PSDB de renovar seus quadros no estado. Os especialistas avaliam que, embora tenha uma rejeição alta entre os eleitores da capital paulista (33%, segundo pesquisa do Datafolha), Serra é o único nome do PSDB com reais chances de vencer. E isso altera o desenho que a eleição municipal vinha tomando, com a aproximação entre o PT e o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Além disso, analisam, a decisão abre espaço para que o senador Aécio Neves seja o candidato natural dos tucanos na disputa pela Presidência, em 2014. Mesmo assim, segundo esses especialistas, isso não invalida a possibilidade de Serra voltar a disputar as eleições presidenciais em 2018.
- A entrada de Serra na disputa foi um pedido de socorro do partido a ele. O PSDB tem dificuldade de renovar seus quadros em São Paulo. E a aproximação entre o PSD do prefeito Gilberto Kassab e o PT foi decisiva para que Serra entrasse no jogo. O PSDB corria o risco de perder a eleição para prefeito na cidade e para o governo do estado, em 2014. Serra é um nome forte, mas o jogo desta vez é mais arriscado do que em 2004, quando ele se elegeu prefeito sendo franco favorito. A rejeição a Serra é grande e tende a aumentar ao longo da campanha, podendo chegar a 40%. Não estou dizendo que ele vai perder, mas o risco é maior - diz o cientista político Fernando Abrucio, professor da Fundação Getúlio Vargas.
Para Abrucio, a pré-candidatura de Serra à prefeitura define quem é o candidato do partido nas eleições presidenciais de 2014: Aécio Neves. Mas o cientista político não descarta que Serra ainda pretenda ser presidente.
- Em 2006, Serra avaliou que Lula dificilmente perderia. Por isso, mesmo sendo o preferido do partido, abriu mão da candidatura para que Geraldo Alckmin enfrentasse Lula. O mesmo deve acontecer com Dilma. Portanto, Serra abriria mão da disputa em 2014 em favor de Aécio para voltar em 2018, após mais de 16 anos da era Lula - diz Abrucio.
Na avaliação do cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Centro de Análise e Pesquisa da Comunicação (Cepac), o PSDB tem um núcleo duro de lideranças, que há mais de 15 anos disputa as eleições em São Paulo e em nível nacional. Isso mostra a dificuldade de renovação de quadros do partido.
- Essa renovação não é fácil. O PT conseguiu renovar seus quadros basicamente pela transferência de apoio do Lula, que saiu do governo com nível de aprovação nunca visto antes neste país - diz Figueiredo.
Para ele, o natural agora seria Serra se aproximar e apoiar Aécio na disputa presidencial em 2014. Figueiredo não acredita que, se eleito prefeito de São Paulo, Serra abandonaria o cargo para uma nova disputa à Presidência em 2014.
- Seria um golpe baixo para a opinião pública, considerando que ele já deixou a prefeitura de São Paulo para concorrer ao governo do estado. Depois, deixou o governo para concorrer à presidência. E no atual quadro político, avalio que seria muito difícil ele se apresentar como candidato contra a Dilma, que terá muita força em 2014 - avalia Figueiredo.
Para Fernando Antônio Azevedo, professor de ciência política da Universidade de São Carlos (UFSCar), a entrada de um "político da velha guarda" como Serra altera o desenho que a eleição municipal em São Paulo vinha tomando. Ele considera que, embora a taxa de rejeição de Serra seja alta, ele tem um bom ""recall" político e é um nome forte para a formação de uma aliança política mais sólida. Para Azevedo, pesa também contra Serra o fato de a atual administração de Gilberto Kassab estar mal avaliada pelos paulistanos. Serra e Kassab sempre foram aliados em São Paulo.
- Se a aliança entre PSD e PT vingasse, a campanha de Fernando Haddad (PT) pouparia a atual administração de Kassab de críticas. Com a entrada de Serra e o apoio de Kassab a ele, a eleição em São Paulo novamente será polarizada entre PSDB e PT - diz Azevedo.
Segundo ele, a dificuldade do PSDB de renovar seus quadros em São Paulo deve-se à própria formação do partido.
- É um partido de notáveis. Foi criado e dominado por políticos desse tipo e, apresenta dificuldade de renovação interna. Entre os pré-candidatos tucanos na disputa pela prefeitura de São Paulo, apenas Bruno Covas era uma novidade.
FONTE: O GLOBO
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